Agrobiodiversidade em Ação: Conheça o Projeto de Pesquisação que Transforma Realidades no Semiárido Paraibano

Professora Elida Barbosa Correa coordena o Grupo de Pesquisação Agrobiodiversidade do Semiárido, que integra ensino, pesquisa e extensão na UEPB, com impacto direto na agricultura familiar da Paraíba.
Por Sérgio Melo | Paraíba Cultural
Tive o primeiro contato com a professora Elida Barbosa Correa durante a apresentação do TCC de um grande amigo, o músico e educador Fredi Guimarães. A professora integrava a banca avaliadora e, mesmo num ambiente acadêmico formal, sua fala já deixava evidente o compromisso com uma ciência viva, acessível e conectada ao território.
A segunda vez que a encontrei foi em um contexto ainda mais potente: a Primeira Mostra de Pesquisa e Extensão da UEPB, realizada na Praça do Mercado Municipal de Lagoa Seca. Estava na companhia dos companheiros do ECOAMA, Romério Zeferino e Pablo David Queiroz de Barros, em uma visita feita com o objetivo de conhecer de perto os projetos desenvolvidos pela universidade e fortalecer a parceria entre o ECOAMA e a Faculdade de Extensão da UEPB.
A mostra foi promovida pelo PROEXT-PG, programa que integra a Pró-Reitoria de Extensão e a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual da Paraíba, com apoio da CAPES. Uma iniciativa inédita que tem como objetivo promover os projetos de pós-graduação que também desenvolvem ações de extensão, unindo ciência e comunidade de forma prática e transformadora.
Foi nesse dia que conversamos com mais calma e surgiu a pauta para esta entrevista. A proposta era clara: apresentar ao público do Paraíba Cultural os detalhes de um projeto que atua na raiz dos problemas vividos por quem trabalha com agricultura familiar no semiárido. O Grupo de Pesquisação Agrobiodiversidade do Semiárido, coordenado pela professora Elida, é um desses exemplos em que o tripé universitário — ensino, pesquisa e extensão — não é apenas discurso, mas prática cotidiana e transformadora.
Com forte atuação no campus II da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o grupo atua ouvindo as demandas das famílias agricultoras e devolvendo a elas conhecimento científico em forma de tecnologias, estratégias de manejo e soluções práticas para os desafios no campo. É um trabalho de ida e volta, de construção coletiva, que tem como base a agroecologia, a autonomia camponesa e a valorização da biodiversidade local.
Entrevista | Pesquisação Agrobiodiversidade do Semiárido
Com a Professora Elida Barbosa Correa (UEPB)
Por Sérgio Melo

A seguir, compartilho uma conversa com a professora Elida Barbosa Correa, coordenadora do Grupo de Pesquisação Agrobiodiversidade do Semiárido, uma iniciativa que tem contribuído de forma decisiva para o fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia no interior da Paraíba.
Professora Elida, o que é o Grupo de Pesquisação Agrobiodiversidade do Semiárido e como ele funciona na prática?
Elida Barbosa: O grupo de Pesquisação Agrobiodiversidade do Semiárido, o qual eu coordeno, é um projeto completo. Como o próprio nome já indica, trata-se de uma ação de Pesquisação, que integra ensino, pesquisa e extensão, sempre de acordo com a realidade das famílias agricultoras. As demandas surgem a partir dos problemas enfrentados por essas famílias no campo. A partir disso, desenvolvemos ações na universidade — no campus II da UEPB. Desenvolvemos tecnologias e, depois, retornamos ao campo com os resultados da pesquisa.
Como surgiu esse grupo e qual foi o caminho até chegar à estrutura atual?
Elida Barbosa: Esse grupo de pesquisa é cadastrado no CNPq e surgiu como fruto de um projeto que também coordenei, chamado Centro Vocacional Tecnológico de Agroecologia e Produção Orgânica, aprovado em uma chamada pública do CNPq com duração de três anos. Esse projeto, por sua vez, nasceu do nosso Núcleo de Inserção Rural Agroecológica (NERA), criado em 2012. O NERA também foi, inicialmente, um projeto do CNPq, coordenado por dois professores do nosso campus ligado à ONG Giramundo, de Botucatu (SP). Depois que eles retornaram para São Paulo, seguimos com o projeto por cerca de quatro anos com financiamento governamental, e depois com os recursos da UEPB, basicamente bolsas de iniciação científica e extensão.
Quais os principais avanços alcançados com a conquista do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) entre 2018 e 2020?
Elida Barbosa: Em 2016, foi lançado o edital de CVTs – Núcleos de Extensão Tecnológica. Nós concorremos e conseguimos um CVT. Entre 2018 e 2020, contamos com esse Centro, o que impulsionou muito nossas pesquisas. Tínhamos estudantes atuando tanto no Cariri quanto no Agreste, profissionais da agroecologia formados no nosso campus, que atuavam diretamente nas unidades produtivas. Com isso, nossas ações se ampliaram e passamos a trabalhar com um número maior de famílias agricultoras. Os alunos do mestrado sempre focaram suas pesquisas nas principais problemáticas enfrentadas no campo, especialmente aquelas relacionadas a doenças, pragas e à caracterização de sementes crioulas.
E hoje, quais são os principais focos e tecnologias que o grupo está desenvolvendo?
Elida Barbosa: Atualmente, nosso foco principal é a revitalização da cultura da batata agroecológica, que quase se perdeu com o avanço da batata convencional vinda do Sudeste. Alguns agricultores resistiram, e hoje estamos dando apoio para retomar essa produção na região. A cultura da batatinha exige muita atenção. Trata-se de uma cultura sensível, afetada por várias doenças, e a questão da semente é complexa, já que se trata de um clone. Nosso trabalho envolve diagnóstico, avaliação e, depois, o retorno ao campo com medidas de controle aplicadas por meio de oficinas. Também estamos promovendo o crescimento de plantas com o uso de bactérias que solubilizam nutrientes presentes no solo, tornando-os disponíveis para as plantas, além de fixar nitrogênio atmosférico. Já temos resultados significativos: desenvolvemos um biofertilizante específico para coentro, um substrato para produção de mudas de hortaliças, além da produção de batata-semente em casas de vegetação.
Como as pessoas podem acompanhar esse trabalho e acessar os materiais produzidos?
Elida Barbosa: Temos um perfil no Instagram chamado @agro_uepb. Lá publicamos várias cartilhas elaboradas durante o período do CVT, sobre culturas como citros, feijão, macaxeira, batatinha e banana. Todo esse material ainda está disponível e é bastante útil. Atualmente, o grupo conta com dois pesquisadores permanentes no campus — um especialista em irrigação e outro em adubação — além da professora Lúcia, da UFCG, que apoia nossas pesquisas em solos, e o professor Alberto, da UEPB, que contribui com a área de fisiologia vegetal. Continuamos atuando em parceria com o Polo da Borborema e a organização EcoBorborema, mantendo firme nossa missão de unir ciência e campo em benefício das famílias agricultoras.
Siga o projeto no Instagram: @agro_uepb
Cartilhas sobre batatinha, feijão, macaxeira e outras culturas estão disponíveis gratuitamente.
A UEPB segue mostrando que ciência também se faz com os pés na terra e com o olhar atento às raízes culturais, ambientais e sociais do nosso povo.