Dia do Repente: a poesia cantada que mantém vivas nossas raízes nordestinas

No compasso da viola, entre versos improvisados e melodias que ecoam histórias, crenças e sentimentos, celebramos hoje o Dia do Repente, manifestação cultural nordestina que atravessa gerações e permanece firme como patrimônio imaterial do nosso povo.
O repente, também chamado de cantoria ou peleja, nasceu da fusão de influências ibéricas trazidas pelos colonizadores com a criatividade popular nordestina. Desde os séculos XVIII e XIX, trovadores e poetas populares encontraram no desafio rimado uma forma de comunicação, resistência e identidade. A viola, instrumento inseparável do cantador, tornou-se a trilha sonora de encontros em feiras, praças e festas de interior.
Mais do que um estilo musical, o repente é poesia cantada e improvisada, onde dois ou mais cantadores duelam em versos rimados, exaltando a cultura, denunciando injustiças, contando causos e arrancando risos da plateia. É uma arte de raciocínio rápido e profundo, que exige não só habilidade com as palavras, mas também conhecimento das tradições, da vida no sertão e da alma nordestina.
Mesmo em tempos de redes sociais e tecnologias digitais, o repente mantém seu espaço. Os cantadores conquistam novos públicos, ocupam palcos nacionais e internacionais, e se reinventam sem perder a essência. Hoje, o repente está reconhecido como patrimônio cultural do Brasil, preservando sua autenticidade e garantindo que novas gerações conheçam e valorizem essa herança.
Celebrar o Dia do Repente é reafirmar a importância da oralidade, da criatividade e da identidade nordestina que pulsa em cada estrofe. É lembrar que, enquanto houver um cantador e sua viola, a tradição do improviso continuará encantando, ensinando e emocionando.
Sérgio Melo
Jornalista e Gestor Ambiental. Coordenador de projetos de Educação Ambiental no portal Paraíba Cultural e no Q-Ideia – Design e Comunicação. Atua em ações integradas de sustentabilidade, cultura e desenvolvimento territorial no Estado da Paraíba.