II Conferência Caatingueira do Clima: debater a crise climática para proteger a Caatinga e as comunidades do Semiárido

 II Conferência Caatingueira do Clima: debater a crise climática para proteger a Caatinga e as comunidades do Semiárido

Evento reúne especialistas, gestores e comunidades para discutir os efeitos das mudanças climáticas sobre o bioma mais brasileiro de todos: a Caatinga. Foto: Sérgio Melo/Q-Ideia

Entre os dias 6 e 11 de novembro de 2025, o Sesc Pernambuco sediará a II Conferência Caatingueira do Clima, um encontro que propõe unir ciência, cultura e ação coletiva em defesa da Caatinga — bioma exclusivamente brasileiro e hoje entre os mais ameaçados pelas mudanças climáticas.
O evento se insere no contexto da COP30, que acontecerá no mesmo período em Belém (PA), reforçando o papel do Nordeste no debate global sobre clima e sustentabilidade.
👉 Confira mais informações no site oficial do evento

A Caatinga diante da crise climática

Com chuvas cada vez mais irregulares e temperaturas em elevação, a Caatinga vem sofrendo efeitos diretos da emergência climática. Estudos apontam que o bioma já perdeu cerca de 40% de sua cobertura vegetal original, comprometendo não apenas espécies nativas, mas também as condições de vida de milhares de famílias que dependem do equilíbrio ambiental do Semiárido.

O fenômeno da desertificação — intensificado por queimadas, desmatamento e práticas agrícolas inadequadas — vem transformando áreas outrora produtivas em verdadeiros “vazios ecológicos”. A perda de solo fértil, a escassez hídrica e a diminuição da biodiversidade colocam em risco o equilíbrio ecológico e econômico da região.

Segundo pesquisas da Embrapa Semiárido, o aumento da temperatura média e a redução das chuvas podem levar à extinção de até 90% das espécies típicas da Caatinga até 2060, caso o ritmo atual de degradação continue.

Os efeitos sentidos na Paraíba e no Nordeste

Na Paraíba, os sinais são claros. A vegetação nativa cede espaço a áreas degradadas, e muitos municípios do interior enfrentam longos períodos de estiagem. Estudos do Ministério do Meio Ambiente apontam que cerca de 27% do território paraibano já apresenta algum grau de degradação ambiental, o que torna urgente a adoção de medidas adaptativas.

Em regiões como o Cariri, Seridó e Curimataú, as mudanças de temperatura e o regime irregular das chuvas estão afetando a agricultura familiar, reduzindo a produtividade e aumentando a vulnerabilidade das comunidades rurais.
A diminuição de açudes e poços, somada à menor recarga dos lençóis freáticos, agrava a insegurança hídrica, um dos maiores desafios do Semiárido nordestino.

Região de Pedra Lavrada, Serra das Flechas. Foto: Sérgio Melo/Q-Ideia

 

Migração e perda de saberes tradicionais

A escassez de recursos naturais tem provocado a migração climática — famílias inteiras abandonando o campo em busca de melhores condições de vida. Esse êxodo, além de causar impactos sociais e urbanos, representa também a perda de conhecimentos ancestrais sobre o manejo sustentável da terra, sementes crioulas e convivência com o Semiárido.
Preservar a Caatinga é, portanto, também preservar a cultura e a memória dos povos que nela vivem.

A Caatinga como aliada do clima

Apesar das adversidades, a Caatinga é uma aliada estratégica no combate às mudanças climáticas. Sua vegetação nativa tem capacidade de sequestrar carbono da atmosfera, contribuindo para reduzir os gases de efeito estufa.
Entretanto, esse potencial depende da conservação e restauração das áreas degradadas.
Iniciativas de reflorestamento com espécies nativas, sistemas agroflorestais e o fortalecimento da agroecologia vêm ganhando destaque como alternativas viáveis e sustentáveis.

Caminhos e soluções para um futuro sustentável

Durante a II Conferência Caatingueira do Clima, serão discutidas propostas que envolvem:

  • Restaurar áreas degradadas com espécies nativas, fortalecendo a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos;
  • Ampliar a captação e o uso racional da água, com tecnologias simples e eficazes como cisternas e barragens subterrâneas;
  • Valorizar os saberes locais e o protagonismo das comunidades rurais, fundamentais para o manejo sustentável do bioma;
  • Integrar políticas públicas que unam meio ambiente, educação, economia e cultura em prol da adaptação climática.

A mensagem central do evento é clara: proteger a Caatinga é proteger a vida. É garantir futuro, água e alimento para as próximas gerações.

Um chamado à ação

Em tempos de crise climática global, o Nordeste brasileiro tem papel essencial na busca por soluções locais e resilientes.
A II Conferência Caatingueira do Clima é, acima de tudo, um chamado para que ciência, comunidades e políticas públicas caminhem juntas na defesa do bioma que mais simboliza a resistência do povo brasileiro.

 

 

 

Sérgio Melo
Jornalista e Gestor Ambiental. Coordenador de projetos de Educação Ambiental no portal Paraíba Cultural e no Q-Ideia – Design e Comunicação. Atua em ações integradas de sustentabilidade, cultura e desenvolvimento territorial no Estado da Paraíba.

 

 

 

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