Da Escola dos Sonhos à Educação do Futuro: inspirações para a Paraíba

 Da Escola dos Sonhos à Educação do Futuro: inspirações para a Paraíba

Escola dos Sonhos, Bananeiras, Paraíba. Foto: Sérgio Melo/Q-Ideia

A repercussão da VI CONANE coloca Bananeiras e a Escola dos Sonhos no mapa das experiências que o Brasil precisa olhar com mais atenção. O que vimos ali — e que a Folha de S.Paulo tão bem captou — é a prova viva de que inovação educacional pode florescer mesmo fora dos grandes centros, quando há propósito, escuta e gestão comprometida.

Na Paraíba, há um terreno fértil para que outras escolas públicas também avancem nessa direção. O estado já possui redes de professores criativos, programas de extensão universitária e projetos sociais com vocação para integrar cultura, meio ambiente e pedagogia — elementos centrais do modelo que deu origem à Escola dos Sonhos.

 

Caminhos possíveis para gestores e comunidades educativas

  1. Educação como projeto coletivo
    A Escola dos Sonhos funciona como um organismo vivo porque envolve toda a comunidade: professores, oficineiros, famílias, artistas, estudantes e parceiros institucionais. Cada ação nasce da escuta e do diálogo. Esse é o primeiro passo para qualquer escola que queira transformar-se —
    abrir o processo educativo à participação real.
  2. Currículo vivo e integrado ao território
    As oficinas culturais e ambientais, o cuidado com o espaço físico e a relação com o entorno fazem parte do currículo. São formas de ensinar que
    reconectam o saber escolar à vida cotidiana. Gestores e coordenadores podem começar com pequenas ações: um jardim pedagógico, uma rádio escolar, um projeto de memória local, uma horta comunitária. O essencial é que o aprendizado volte a ter sentido.
  3. Formação continuada com base na prática
    A formação docente precisa ir além dos cursos pontuais e teóricos. A experiência da Escola dos Sonhos mostra que
    aprender fazendo, refletindo e reconstruindo junto gera resultados muito mais profundos. A criação de núcleos locais de formação, em parceria com universidades e coletivos culturais, pode multiplicar esse efeito em todo o estado.
  4. Gestão que inspira e conecta
    O papel dos gestores é o de facilitadores. São eles que garantem tempo, espaço e condições para o trabalho coletivo florescer. A CONANE evidenciou que onde há gestão democrática e inspiradora,
    as práticas inovadoras emergem naturalmente.
  5. Integração com políticas e editais
    Muitos caminhos já estão abertos para financiar e fortalecer essas experiências — desde os programas de
    Educação Integral, até editais do Ministério da Educação, da Secretaria de Cultura e de empresas com políticas ESG. O desafio é construir projetos com clareza de propósito e indicadores sociais bem definidos.

 

 

 

Educação que floresce na vida real

A Escola dos Sonhos é mais do que um exemplo local — é um protótipo de escola pública com alma. O que Bananeiras mostrou ao país é que transformar a educação não depende apenas de infraestrutura, mas de visão, afeto e coragem.

Se gestores públicos e comunidades educacionais da Paraíba assumirem esse compromisso, poderemos ver nascer novas “escolas dos sonhos” em cada região — na zona rural, nas cidades pequenas, nos bairros periféricos — conectadas por uma mesma convicção: a de que toda criança merece aprender com alegria, criatividade e sentido.

 

 

PC

Guia prático — Como transformar uma escola pública

Leis-base, rotas de financiamento (ESG), passo a passo, indicadores e documentação essencial

Leis-base e políticas públicas

  • LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação): quadro jurídico para organização da educação básica e superior no Brasil.
  • PNE (Plano Nacional de Educação): metas nacionais que orientam investimentos e prioridades.
  • BNCC (Base Nacional Comum Curricular): referencia para desenvolvimento curricular e competências.
  • ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente): proteção integral e direitos socioeducacionais.
  • Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA): orienta ações de educação ambiental integradas ao currículo.
  • (Dica) Consulte as secretarias municipais e estaduais para normativas locais que facilitem parceria e uso de espaços.
Rotas de financiamento (com ênfase em ESG)

  1. Mapear empresas locais e regionais com política ESG — apresentar proposta alinhada a impacto social, educação e desenvolvimento comunitário.
  2. Projetos de patrocínio e contrapartida: elaborar cotas/planos (ex.: apoio pedagógico, infraestrutura, bolsas para formação) com indicadores claros de impacto.
  3. Leis de incentivo cultural: quando aplicável, estruturar a peça técnica para captar por incentivos fiscais (atenção à legislação vigente).
  4. Editais públicos e privados: acompanhar chamadas do MEC, secretarias de cultura, fundações e institutos corporativos (fazer um calendário de editais).
  5. Parcerias técnico-acadêmicas: universidades e institutos podem aportar formação, pesquisa-ação e relatórios de impacto que fortalecem propostas ESG.

Prepare um dossiê executivo (1-2 páginas) e um anexo técnico (orçamento, cronograma, indicadores) para cada rota de financiamento.

Passo a passo para estruturar um projeto escolar transformador

  1. Diagnóstico participativo: ouvir professores, estudantes, famílias e comunidade — mapear necessidades, ativos (pessoas, saberes, espaços) e prioridades.
  2. Definir objetivos e público-alvo: metas claras (ex.: ampliar aprendizagem socioemocional em X meses; reduzir evasão; criar ateliê pedagógico).
  3. Plano de atividades e currículo integrado: oficinas culturais, projetos ambientais, hortas, laboratórios vivos, circulação de saberes locais.
  4. Formação docente contínua: roteiros de capacitação prática e supervisionada (mentoria, observação entre pares, oficinas coletivas).
  5. Governança participativa: conselhos escolares inclusivos, com representantes de família, estudantes e parceiros técnicos.
  6. Orçamento e fontes: detalhar custos (pessoal, materiais, manutenção) e combinar fontes (secretaria, editais, patrocínio, mutirão).
  7. Monitoramento e avaliação: indicadores, instrumentos de coleta e rotina de avaliação trimestral para ajustes.
  8. Comunicação e prestação de contas: registrar e divulgar resultados para a comunidade e financiadores (relatórios, redes sociais, eventos).
Indicadores essenciais (exemplos)

TipoIndicadorMeta/Exemplo
EntradaNúmero de estudantes participantes nas oficinas>= 80% da matrícula por semestre
ProcessoHoras semanais de projeto integradas ao currículo>= 4 horas/semana por turma
ResultadoMelhora no engajamento estudantil (autoavaliação)Aumento de 20% na média de engajamento em 1 ano
ImpactoTaxa de continuidade escolar / redução de evasãoRedução de evasão em 30% em 2 anos

Combine indicadores quantitativos e qualitativos (entrevistas, portfólios, registros em áudio/vídeo).

Documentação essencial para submissão e prestação de contas

  • Resumo executivo do projeto (1 página).
  • Projeto técnico-pedagógico detalhado (10–20 páginas): metas, atividades, cronograma.
  • Planilha orçamentária (detalhada por categoria) e orçamento resumido.
  • Plano de monitoramento e avaliação (M&E) + indicadores e instrumentos.
  • Currículos e portfólios da equipe (coordenador, oficineiros, parceiros).
  • Atas ou declarações de apoio da comunidade e da direção escolar.
  • Termos de autorização/consentimento (quando envolver imagens e saídas pedagógicas).
  • Documentos legais da instituição proponente (quando houver): CNPJ, contrato social, estatuto, comprovante de regularidade fiscal.
  • Contas bancárias e dados para repasse; contatos para a equipe técnica.

 

 

Sérgio Melo
Jornalista e Gestor Ambiental. Coordenador de projetos de Educação Ambiental no portal 
Paraíba Cultural e no Q-Ideia – Design e Comunicação. Atua em ações integradas de sustentabilidade, cultura e desenvolvimento territorial no Estado da Paraíba.

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