Publicada pela EDUEPB a biografia do autor de Xote dos Cabeludos que deu uma guinada na carreira do Rei do Baião
Por Xico Nóbrega
Quem foi adolescente ou jovem no final da década 1960, naturalmente embalado por Roberto Carlos e sonhando deixar o cabelo crescer à moda da Jovem Guarda, havia de vencer a barreira instransponível da vigilância paterna, endurecida mais ainda pelo o enorme sucesso de um xote de Luiz Gonzaga – Xote dos Cabeludos – de autoria do compositor cearense Jose Clementino do Nascimento, filho de um paraibano radicado no Ceará.
A biografia Zé Clementino: O “matuto” que devolveu o trono ao Rei, sobre o compositor cearense nascido, criado e finado no município de Várzea Alegre, autor o jornalista Jurani Clementino (parente do biografado que vive em Campina Grande), foi lançada este ano no selo Latus da Editora da Universidade Estadual da Paraíba, EDUEPB, revelando por inteiro a vida e a obra do compositor de Xote dos Cabeludos que deu uma guinada na carreira do Rei do Baião, desde o final da década 1960.
O auge do sucesso de Luiz Gonzaga acontecera nas décadas de 1940 e 1950. Ao final desse período, após a morte de Vargas e eleição seguinte de JK surgiram os ideais de um Brasil novo, de Brasília, do Cinema Novo, do Concretismo, da Bossa Nova, Jovem Guarda, algo mais moderno além das manifestações folclóricas regionais dos baiões, xotes e toadas de Luiz Gonzaga.
Desde então começou a fase de declínio do Rei do Baião que perduraria na década 1960, de queda de venda de disco, de ausência dos principais espaços da mídia de então, o rádio, que o havia consagrado enormemente em todo Brasil, e da televisão nascente no gosto popular. Esses meios de comunicação simplesmente esqueceram o grande astro de suas programações, embora ele continuasse reinando nos sertões do Brasil.
“Luiz Gonzaga parou de tocar nos rádios, mas no interior ele continuou levando cinco a dez mil pessoas nas praças. Mas a imprensa não divulgou mais nada sobre ele”, dizia a mulher dele Helena Gonzaga.
O encontro histórico de Zé Clementino e Luiz Gonzaga no Crato
Depois das participações fundamentais dos compositores Humberto Teixeira e Zé Dantas, nas décadas 1940 e 1950, Luiz Gonzaga desamparado foi atrás de novos parceiros na década 1960.
De fato ele os encontrou. Alguns desses novos compositores marcariam a sua carreira com grandes sucessos lançados naquela década. Entre eles, Rosil Cavalcanti, Zé Marcolino, Patativa do Assaré e Zé Clementino.
O jornalista Jurani Clementino narra na biografia Zé Clementino: O “matuto” que devolveu o trono ao Rei sobre o encontro histórico do seu biografado e Luiz Gonzaga, em 1965, na cidade do Crato, onde o varzealegrense então morava e trabalhava nos Correios.
Zé Clementino, poeta e boêmio, fascinado pelo Rei do Baião, fizera algumas músicas sonhando um dia apresentá-las ao grande astro. E esse dia chegou à sua vida. O diálogo travado entre o fã emocionado e o ídolo desencantado expressa dramaticamente a fase crítica da carreira do Rei do Baião.
O fã tímido e retraído arranjou coragem para se aproximar do ídolo. Disse ser compositor em sua cidade de Várzea Alegre e que tinha algumas músicas prontas para lhe apresentar.
Luiz Gonzaga, embora comovido da intenção do jovem compositor, não o iludiu. Disse para ele não perder tempo consigo, que o seu tempo passara, estava em fim de carreira, que a época gloriosa do baião ficara atrás.
Zé Clementino insistiu, disse que o Rei do Baião ainda tinha muito a ensinar às novas gerações, que as suas músicas contavam a história do Nordeste, que o povo precisava dele e de sua alegria.
“Muito bem, já que você diz ser compositor, eu vou lhe propor um desafio. Traga-me uma música falando dessa moda dos homens de cabelo grande, esses cabras cabeludos que vem tomando conta do sertão”, disse Luiz Gonzaga.
Uma semana depois do encontro no Crato, Zé Clementino apresentou o Xote dos Cabeludos a Luiz Gonzaga, e outras músicas, na cidade de Lavras de Mangabeira, no Ceará. O xote lançado no disco LP Luiz Gonzaga Óia Eu Aqui de Novo, de 1967, se consagraria um dos maiores sucessos dele daquela década, e Sanfona do Povo, Sala de Reboco e A Triste Partida.
A parceria de Luiz Gonzaga e Zé Clementino renderia diversas outras músicas lançadas nas décadas de 60 e 70. Além de Xote dos Cabeludos, O Jumento é Nosso Irmão, Capim Novo – esta incluída na trilha sonora da novela Saramandaia, da TV Globo – e Sou do Banco, a derradeira composição do varzealegrense lançado no disco LP Luiz Gonzaga Eu E Meu Pai, de 1979.
Além de Luiz Gonzaga, trinta e um outros intérpretes gravaram as composições de José Clementino. Entre eles, Trio Nordestino – que gravou O Chinelo de Rosinha dele Clementino e de um irmão-, Dominguinhos, Genival Lacerda, Messias Holanda, Luiz Caldas, Targino Gondim, Sirano, Valdonys.
O que é o selo Latus da EDUEPB
O selo Latus é um segmento da Editora da Universidade Estadual da Paraíba, EDUEPB, que supre as necessidades dos autores e leitores da região de produções artísticas e culturais voltadas para a crônica, poesia, biografia, além da gama de publicações de cunho não científico.
O catálogo do selo Latus da EDUEPB inclui outra obra biográfica, além de Zé Clementino: O “matuto” que devolveu o trono ao Rei do jornalista Jurani Clementino. Trata-se do livro da vida de Elizabeth Teixeira, a viúva de João Teixeira, líder das Ligas Camponesas assinado na Paraíba, que inspirou o documentário Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho.