A Caatinga e o carbono: um convite à reflexão

 A Caatinga e o carbono: um convite à reflexão

Caatinga paraibana. Foto: Sérgio Melo

Por Sérgio Melo

 

Sempre caminhei entre palavras, imagens e árvores — sabedoria adquirida nos caminhos da minha Paraíba, explorando o sertão, a caatinga, suas cores, seus ritmos e silêncios. Quando li, dia 28 de julho de 2025, o artigo publicado no Jornal da Unesp sobre o papel da Caatinga no sequestro do carbono no Brasil, senti que algo pulsava forte naquele semiárido que tanto amo.

O estudo, liderado por pesquisadores da Unesp, comparou duas bases de dados de emissões de gases de efeito estufa e destacou um resultado surpreendente: em anos de chuvas mais intensas, a Caatinga, que cobre cerca de 10% do território nacional, pode responder por quase 50% de toda a remoção de CO₂ no país. Pensei: meu bioma, muitas vezes relegado ao esquecimento, desponta como protagonista na mitigação das mudanças climáticas.

A eficiência da Caatinga impressiona. Dados do Observatório da Dinâmica de Água e Carbono mostram que, ao longo de quase uma década, o bioma sequestrou uma média de 527 g de carbono por metro quadrado por ano — ou cerca de 5,2 toneladas por hectare — um dos maiores índices entre os ecossistemas secos do mundo. Em comparação com outras regiões áridas globais, como o Sahel, a Caatinga se destaca até frente à própria Amazônia em termos de eficiência de sequestro.

Como narrador cultural e observador da relação entre Paraíba e Caatinga, sinto que isso é muito mais que estatística: é narrativa viva. Cada rebrote após a seca, cada combinação de chuva e resiliência vegetal, conta a história de um bioma que, sob o sol implacável, arma a sua defesa contra o aquecimento global.

No estudo de campo em Petrolina (PE), por exemplo, pesquisadores constataram que durante a estação chuvosa a assimilação de carbono chegou a 160 g C/m² no período de janeiro de 2011, enquanto no fim da seca caiu a níveis inferiores a 20 g C/m². No total anual, a produção primária líquida (NPP) variou de 500 a 700 g C/m² em 2011, mas despencou para entre 100 e 400 g C/m² em 2012 nos anos mais secos. Esses números reforçam algo que quem vive por aqui já conhece: sem chuva, a Caatinga reduz sua força — mas quando vem a água, responde de forma extraordinária.

Isso me leva a refletir: preservar a Caatinga é preservar o equilíbrio do clima, é celebrar esse bioma único. E não apenas isso: a Caatinga é exclusiva do Brasil, riqueza biológica e cultural que pertence ao nosso povo, aos nossos sertões, à nossa história.

No Paraíba Cultural, meu convite é para que esses dados se convertam em ação. Que os governos e comunidades entendam que proteger a Caatinga não é opcional — é essencial. Que as políticas públicas deem espaço para iniciativas de restauração, crédito de carbono e estudos como esse da Unesp.

Convido você a olhar a Caatinga com outros olhos — enxergando não só a aridez, mas este pulmão silencioso que, quando bem cuidado e regado, absorve carbono, traz vida, sustento e identidade.

Este artigo é um tributo ao verde que resiste no coração do semiárido. À Caatinga, meu bioma, que é solo, é cultura, é futuro.

 

 

 

 

 

 

Ao observar esses infográficos, reforço o que tantas vezes vivenciei em campo: a Caatinga não é um bioma menor, é um sistema sofisticado, sensível e fundamental no equilíbrio climático do Brasil. Os dados tornam visível aquilo que a experiência já nos contava — que o semiárido é um aliado poderoso na luta contra as mudanças climáticas. Que esses gráficos não fiquem restritos aos relatórios científicos, mas se transformem em política pública, educação ambiental e reconhecimento territorial. A ciência nos deu os números. Cabe a nós, agora, agir com sabedoria e urgência.

 

 

 

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