Educação Ambiental nas Escolas Públicas: Parcerias que transformam realidades

 Educação Ambiental nas Escolas Públicas: Parcerias que transformam realidades

Em Campina Grande, a educação ambiental ganhando espaço na sala de aula com apoio de professores engajados. A abordagem interdisciplinar fortalecerá a consciência ecológica desde os primeiros anos escolares.

Por Sérgio Melo | Paraíba Cultural

 

Falar sobre educação ambiental em escolas públicas da Paraíba, especialmente em Campina Grande, é mais do que discutir uma pauta curricular — é pensar o futuro. Como gestor ambiental, comunicador e educador envolvido em projetos socioambientais no estado, tenho vivido experiências que me mostram que, quando se trata de transformar o cotidiano escolar, a palavra-chave é parceria.

Estamos em uma região rica em diversidade ambiental, social e cultural. Campina Grande está geograficamente situada entre os contrastes do agreste e do semiárido, próxima a zonas como o Brejo, o Curimataú e o Cariri. Essa posição estratégica nos oferece um laboratório vivo para práticas de educação ambiental contextualizada, que respeita as realidades locais e promove o engajamento dos estudantes com o seu próprio território.

A realidade, no entanto, é desafiadora. De acordo com dados do Ministério da Educação, menos de 30% das escolas públicas brasileiras possuem algum programa estruturado de educação ambiental contínua. Muitos professores reconhecem a importância do tema, mas se sentem despreparados para abordá-lo de forma interdisciplinar e efetiva. A boa notícia é que já existem caminhos possíveis — e mais do que isso, caminhos que têm dado certo.

 

Educação ambiental na prática: estudantes de escola pública vivenciam o aprendizado em contato com o campo, orientados por agricultores e educadores ambientais. Um encontro entre gerações, saberes e sustentabilidade.

 

Parcerias com profissionais, ONGs, associações e empresas

Uma das rotas mais promissoras para consolidar a educação ambiental no calendário escolar é por meio de parcerias locais com instituições da sociedade civil organizada. Em Campina Grande, por exemplo, temos universidades com excelentes cursos de Gestão Ambiental, Biologia, Pedagogia e Geografia. Por que não mobilizar esse conhecimento em prol das escolas públicas municipais?

Associações comunitárias, empresas com compromissos ESG (ambiental, social e de governança), cooperativas agrícolas e ONGs ambientais também podem oferecer oficinas, mutirões, projetos de hortas escolares, visitas técnicas e cursos de capacitação para professores e alunos. A zona rural do entorno de Campina Grande abriga uma enorme riqueza de experiências agroecológicas, saberes populares e práticas sustentáveis que precisam ser integradas ao processo educativo.

A atuação de profissionais da área de Gestão Ambiental é estratégica. Esses especialistas conseguem criar pontes entre o conhecimento técnico e as necessidades práticas das escolas — seja no manejo de resíduos, na arborização urbana ou no planejamento de ações educativas sustentáveis. É fundamental que os municípios criem mecanismos de contratação e valorização desses profissionais como agentes da transformação pedagógica e territorial.

 

Iniciativas que inspiram

Diversas escolas públicas no Brasil têm inovado. Em Manaus (AM), por exemplo, um projeto realizado em parceria com instituições ambientais levou a instalação de laboratórios verdes em escolas municipais. Em Sobral (CE), ações de educação ambiental são integradas à política educacional local com apoio de universidades e secretarias. No Paraná, a lei estadual 17.505/2013 obriga a inclusão da educação ambiental de forma transversal no ensino público.

Campina Grande pode — e deve — seguir esse caminho. A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/1999) é clara ao estabelecer que a educação ambiental deve ser contínua, integrada às práticas escolares e articulada com a gestão ambiental dos territórios. Além disso, os Planos Municipais de Educação podem incluir metas específicas voltadas à formação ambiental dos alunos.

 

Cultivando saberes: a horta escolar se transforma em um espaço vivo de aprendizagem ambiental, onde alunos desenvolvem valores de cuidado com a terra, alimentação saudável e trabalho coletivo.

 

O papel das universidades

As universidades paraibanas têm um papel essencial nesse ecossistema de transformação. Instituições como a UEPB, UFCG e IFPB já desenvolvem projetos de extensão, pesquisas em ecologia e ações voltadas à sustentabilidade. Falta, no entanto, fortalecer os canais de diálogo com as secretarias de educação municipal e estadual, para que esses saberes e experiências sejam incorporados à rotina das escolas públicas.

Imagino, por exemplo, um programa permanente que envolva estudantes universitários atuando como monitores de educação ambiental nas escolas municipais, realizando oficinas, diagnósticos participativos, produção de material educativo e plantios comunitários. As universidades são viveiros de ideias — é hora de fazê-las florescer também no chão da escola básica.

 

Caminhos práticos para Campina Grande

  1. Criação de um Núcleo Municipal de Educação Ambiental que articule escolas, universidades, ONGs e empresas locais;
  2. Incorporação da temática ambiental no Plano Municipal de Educação, com metas anuais claras e orçamentos específicos;
  3. Formação continuada para professores em parceria com universidades;
  4. Chamadas públicas e editais de fomento para apoiar projetos de educação ambiental nas escolas;
  5. Convênios com propriedades rurais para promover visitas pedagógicas e experiências em campo, aproximando os estudantes do mundo natural e dos saberes do semiárido.

 

Um compromisso com o futuro

Educar para o ambiente não é apenas ensinar a plantar uma árvore ou reciclar o lixo. É formar cidadãos conscientes, críticos e comprometidos com a sustentabilidade de suas comunidades. Em Campina Grande, temos escolas cheias de potencial, educadores apaixonados e uma sociedade cada vez mais atenta à importância de cuidar do planeta.

Cabe a nós construirmos as pontes — entre o campo e a cidade, entre o conhecimento acadêmico e o saber popular, entre o currículo escolar e a vida real. A educação ambiental, quando realizada em parceria, transforma. E transforma para melhor.

 

 

Sérgio Melo
Jornalista e Gestor ambiental. Coordenador de projetos de Educação Ambiental no portal Paraíba Cultural e no Q-Ideia – Design e Comunicação. Atua em ações integradas de sustentabilidade, cultura e desenvolvimento territorial no Estado da Paraíba.

 

 

 

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