Educação Ambiental: um caminho vivo entre o campo, a escola e o futuro da Paraíba

Por Sérgio Melo
Educação Ambiental é mais do que uma disciplina, é uma prática transformadora que une saberes científicos, culturais e afetivos na relação entre seres humanos e o meio ambiente. Trata-se de um processo contínuo de formação crítica e sensível, que busca desenvolver a consciência ecológica e cidadã, contribuindo para que indivíduos e comunidades reconheçam a importância de proteger a natureza, seus recursos e as formas de vida que nela habitam. Mais do que aprender conceitos, é vivenciar — com o corpo, o coração e a memória — o pertencimento a um planeta vivo e interdependente.
É a partir dessa visão que tenho defendido, cada vez mais, o papel dos sítios localizados nas zonas rurais como espaços pedagógicos de excelência para a Educação Ambiental. Esses territórios guardam uma riqueza singular: são espaços onde a natureza e a cultura não se separam. Onde a sombra de uma árvore centenária conta histórias de gerações; onde o cheiro da terra molhada se mistura à memória das festas, dos ofícios, das rezas e das colheitas. Transformar esses espaços em territórios educativos é apostar num modelo de ensino vivo, sensorial e profundamente conectado às raízes da nossa gente.
A proposta é simples, mas potente: escolas do Ensino Fundamental 1 e 2 realizarem visitas regulares a sítios em comunidades rurais, passando um dia inteiro em convivência com o ambiente, com as pessoas e com os saberes da terra. Em vez de livros fechados e salas herméticas, os estudantes experimentam o mundo em sua materialidade e ancestralidade — observam o ciclo das águas, entendem a lógica das plantações, escutam causos e lendas contadas por moradores antigos, aprendem sobre ervas medicinais, observam a fauna da Caatinga, conhecem instrumentos do trabalho rural, e, sobretudo, reconhecem que cuidar da natureza é cuidar da vida em comunidade.
Na prática, essa vivência tem gerado frutos importantes. Projetos como o do Instituto ECOAMA, no Cariri paraibano, ou as experiências no Jardim Botânico da UEPB, em Campina Grande, mostram que há um caminho viável e fecundo para integrar escolas e comunidades rurais em experiências de Educação Ambiental com base em metodologias participativas e respeito ao território. Nessas ações, as crianças aprendem diretamente com os agricultores, com as benzedeiras, com os apicultores, com os guardiões das sementes nativas. É a ciência se entrelaçando com o saber popular.
A região de Lagoa Seca, vizinha a Campina Grande, desponta como um cenário exemplar para esse tipo de iniciativa. Rica em biodiversidade, com forte presença de agricultura familiar, assentamentos produtivos e tradições culturais vivas, o município possui todos os ingredientes para se tornar uma referência estadual em Educação Ambiental de base comunitária. A logística é acessível, a comunidade é receptiva e os sítios estão preparados, em sua maioria, para receber crianças, jovens e professores.
Além dos ganhos educacionais, essa proposta representa também uma alternativa econômica e sustentável para as famílias do campo. Ao receber grupos escolares, os sítios podem se reinventar como espaços de ecoturismo pedagógico, gerar renda com a venda de produtos agroecológicos, oferecer oficinas de saberes tradicionais, e fortalecer o orgulho de sua identidade rural. Estamos falando, portanto, de um ciclo virtuoso: educar com a natureza, valorizar o campo e estimular a economia local.
A Educação Ambiental, quando feita com os pés na terra e os olhos no horizonte, é uma das estratégias mais poderosas para formar cidadãos conscientes, respeitosos e engajados. E a Paraíba, com sua diversidade de biomas, culturas e territórios, tem tudo para liderar essa transformação. Investir em ações que conectem escolas urbanas às comunidades rurais é investir no futuro do nosso estado, nas novas gerações e na dignidade de quem cultiva o chão e preserva o saber.
Que os sítios de Lagoa Seca e de tantas outras regiões da Paraíba se tornem escolas vivas. Que os estudantes conheçam de perto o ciclo da vida, e que, ao voltarem para casa, levem nas mãos não apenas o barro da terra, mas a semente da consciência.
Sérgio Melo
Jornalista e comunicador ambiental. Coordenador de projetos de Educação Ambiental no portal Paraíba Cultural e no Estúdio Q-Ideia – Design e Comunicação. Atua em ações integradas de sustentabilidade, cultura e desenvolvimento territorial no Estado da Paraíba.