ESG e educação ambiental: Caminhos sustentáveis entre escolas privadas e o campo paraibano

Por Sérgio Melo | Paraíba Cultural
Nos últimos anos, a sigla ESG passou a fazer parte das conversas estratégicas de empresas, investidores, educadores e lideranças sociais. Ao lado das transformações exigidas pela crise climática e da urgência por práticas mais sustentáveis, o conceito ganhou força — e abriu portas para iniciativas capazes de transformar territórios. Uma dessas possibilidades, que venho acompanhando de perto na Paraíba, é o desenvolvimento de projetos de Educação Ambiental em parceria com escolas privadas, aproximando o universo urbano da zona rural de forma pedagógica, cultural e regenerativa.
O que é ESG?
A sigla ESG vem do inglês Environmental, Social and Governance — em português, Ambiental, Social e Governança. O termo surgiu no relatório Who Cares Wins, publicado em 2004 por iniciativa do Pacto Global da ONU, com apoio de grandes instituições financeiras internacionais. O objetivo era simples e revolucionário: estimular o setor privado a considerar critérios socioambientais nas decisões de investimento e gestão empresarial.
Na prática, ESG tornou-se uma bússola ética e estratégica. Empresas comprometidas com práticas ambientais responsáveis, inclusão social e gestão transparente ganham mais competitividade, confiança pública e acesso a mercados exigentes. Isso abriu caminho para que ações de impacto positivo — como projetos educativos, culturais e ambientais — fossem vistos como investimento e não como despesa.
ESG como ponte para a Educação Ambiental
No campo da Educação Ambiental, o ESG tem se mostrado uma ferramenta poderosa para gerar impacto real e duradouro. Ao desenvolver um projeto educativo conectado com temas como sustentabilidade, biodiversidade, agricultura regenerativa e cultura local, é possível mobilizar o setor privado como parceiro financiador e institucional.
As leis e diretrizes ESG podem ser utilizadas como argumentos concretos em propostas para empresas: ao apoiar ações voltadas à Educação Ambiental, essas empresas reforçam seu compromisso com os princípios ESG, fortalecem sua imagem perante consumidores e reguladores e contribuem ativamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU — especialmente os ODS 4 (Educação de Qualidade), ODS 13 (Ação Climática) e ODS 15 (Vida Terrestre).
Projetos que inspiram no Nordeste
Um exemplo inspirador vem do município de Lagoa Seca, no agreste paraibano. Lá, pequenas propriedades rurais passaram a receber visitas escolares com foco em práticas agroecológicas, alimentação saudável e tradições culturais. A estruturação desses espaços contou com apoio de uma empresa do setor alimentício, que buscava integrar sua cadeia de valor com iniciativas de ESG e responsabilidade social.
Outro caso emblemático é o projeto “Escola Verde, Vida Ativa”, em Pernambuco, que atua em escolas privadas e comunitárias com foco em hortas agroecológicas, compostagem e oficinas culturais ligadas ao semiárido. O projeto recebe apoio de uma empresa de energia renovável, que encontrou na proposta uma via concreta para aplicar seus compromissos ESG no território onde atua.
No Rio Grande do Norte, destaco o projeto “Caatinga na Sala de Aula”, promovido por uma associação de professores e ambientalistas, que desenvolve kits pedagógicos, vídeos e visitas guiadas em áreas de reserva. Com o apoio de um fundo ESG voltado à educação e clima, o projeto se tornou modelo para ações replicáveis em outros estados.
Cultura e meio ambiente: uma aliança necessária
Como comunicador e gestor de projetos culturais e ambientais, tenho percebido que a união entre cultura e meio ambiente tem potencial transformador no ambiente escolar. Através de vivências com mestres da cultura popular, oficinas de xilogravura, rodas de coco, contação de histórias do sertão e práticas ecológicas em sítios educativos, criamos pontes afetivas entre os alunos e o território onde vivem.
Essas ações não apenas transmitem conhecimento, mas reconectam a escola à sua comunidade e à memória coletiva do campo. O aluno passa a entender que a natureza é viva, que a cultura local é resistência e que o desenvolvimento pode (e deve) caminhar junto com o cuidado ambiental.
Projetos como esse estão sendo gestados na Paraíba — com base no ESG, mas com alma e raiz no chão que pisamos. Cabe a nós, profissionais da educação, da gestão ambiental e da cultura, criar essas conexões e apresentar propostas viáveis a escolas privadas e empresas conscientes.
Um chamado para ação
Hoje, mais do que nunca, é tempo de colocar o ESG a serviço da Educação Ambiental. Se queremos escolas comprometidas com a formação integral de seus alunos — cidadãos conscientes, críticos e protagonistas de um futuro sustentável — precisamos agir de forma integrada.
Apresentar projetos bem estruturados, conectados com a realidade local e respaldados por marcos ESG pode abrir muitas portas. Especialmente quando se entende que educar é também regenerar territórios, valores e vínculos com a natureza.
Vamos juntos construir esse caminho?
Sérgio Melo
Jornalista e comunicador ambiental. Coordenador de projetos de Educação Ambiental no portal Paraíba Cultural e na Q-Ideia – Design e Comunicação. Atua em ações integradas de sustentabilidade, cultura e desenvolvimento territorial no Estado da Paraíba.