Hora de fazer as escolhas corretas
A agenda estratégica para que o Brasil recupere sua economia, promova inclusão social e gere prosperidade com a floresta em pé é o desenvolvimento sustentável
Ao que indicam as projeções, 2023 será um ano desafiador para a economia global. É grande o risco de uma recessão, desencadeado pela desaceleração de grandes economias e por pressões inflacionárias decorrentes da guerra Rússia-Ucrânia – que eclodiu bem no momento em que o mundo dava os primeiros passos na recuperação pós-pandemia. Um relatório divulgado no início de outubro pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) reduziu a projeção de crescimento da economia global de 2,5% para 2,2% no ano que vem. Choques de oferta, insegurança energética e alimentar e medidas econômicas como o aumento da taxa de juros de bancos centrais contribuem para este cenário, que afeta todas as regiões do mundo, mas torna ainda mais vulneráveis os países em desenvolvimento: 60% deles já enfrentam ou estão chegando a um quadro de super endividamento, segundo a UNCTAD.
O Brasil não é exceção. O próximo presidente que será definido no segundo turno das eleições vai encarar um cenário agudo em várias frentes. Na economia, o país deve crescer abaixo da média mundial: as projeções do mercado apontam para uma expansão de 0,5%, enquanto o PIB global deve crescer 2,3% na estimativa do Banco Mundial. Ajustes fiscais serão necessários, além de políticas sociais que permitam ao país gerar empregos e sair do mapa da fome, promovendo o acesso a alimentos para os mais de 33 milhões de brasileiros que estão em situação de insegurança alimentar. No front ambiental, é urgente que o país combata o desmatamento de todos os biomas, especialmente a Amazônia, de modo que possamos ter no horizonte as metas que o Brasil assumiu no Acordo de Paris, que visa evitar que a temperatura global se eleve acima de 1,5ºC até o final do século.
A agenda estratégica para que o Brasil recupere sua economia, promova inclusão social e gere prosperidade com a floresta em pé é o desenvolvimento sustentável. Temos inúmeras vantagens comparativas nesta seara, por ser o país com a maior biodiversidade do planeta e por contar com recursos naturais em abundância, que nos permite ser grandes players na geração de energia renovável e na agricultura. Mas é preciso ir além do que já estamos fazendo.
As atividades calcadas em práticas sustentáveis e de baixo carbono podem gerar um crescimento significativo do PIB, com ganho total acumulado de R$ 2,8 trilhões até 2030 em relação à trajetória atual, como indica o estudo “Uma Nova Economia para o Brasil”, realizado pelo World Resources Institute (WRI) e parceiros. Três eixos são fundamentais para o país: o investimento em infraestrutura de qualidade, a inovação industrial e a agricultura sustentável. Juntas, essas estratégias têm potencial para gerar mais de 2 milhões de empregos na economia brasileira em 2030 em relação à trajetória atual, e com benefícios já desde o primeiro ano. Só no campo do agronegócio, por exemplo, a escolha por práticas de baixo carbono acrescentaria R$19 bilhões em produtividade agrícola adicional até 2030. As medidas também podem resultar em uma redução nas emissões de gases de efeito estufa da ordem de 42%, o que se aproxima do compromisso atual do Brasil no âmbito do Acordo de Paris.
O setor empresarial brasileiro reconhece a importância deste caminho para o Brasil e vem participando ativamente da construção de propostas nesta direção. Desde 2014, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) assume o papel de assessorar os candidatos à Presidência para que a agenda sobre clima e sustentabilidade faça parte das propostas eleitorais. Este ano não foi diferente, e, já no mês de abril, propusemos, por meio da Carta Aberta aos Presidenciáveis, 12 linhas de ação para o cumprimento de nossos compromissos, com sugestões nas áreas de clima e florestas, saneamento, saúde, educação e redução das desigualdades sociais. Na área de clima e florestas, por exemplo, propomos a redução do desmatamento em 15% ao ano em 2023 e 2024 e em 40% ao ano no biênio 2025/2026, tendo como base os índices de 2022.
Neste momento em que as eleições caminham para o segundo turno, seguimos buscando reforçar o diálogo com as equipes responsáveis pelos planos de governo dos presidenciáveis. O CEBDS entende que, a despeito do cenário conjuntural e do abalo econômico global causado pela guerra Rússia-Ucrânia, o mundo continuará caminhando na direção da economia de baixo carbono e do combate à emergência climática. O Brasil tem todas as condições de protagonizar essa mudança desde que faça as escolhas corretas agora: os próximos anos até 2030 serão fundamentais para alicerçar e potencializar a transformação de que o mundo precisa.
* Marina Grossi é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro
Fonte: EXAME