Experiência de turismo na natureza esbarra em desafios de infraestrutura e de gestão
Com um rico e diversificado patrimônio natural, os parques brasileiros reúnem atrativos como fauna, flora e trilhas para a sociedade. No entanto, os profissionais que atuam na gestão desses espaços enfrentam grandes desafios para fazer com que eles sejam, de fato, reconhecidos e apropriados pela população.
É o que revela a 6ª edição do Diagnóstico do Uso Público em Parques Brasileiros: A Perspectiva da Gestão, que contou com a participação de 371 parques, ou seja, 73% dos registrados no Cadastro Nacional das Unidades de Conservação (CNUC), abrangendo esferas administrativas nacional, estadual e municipal. Segundo a pesquisa realizada pelo Instituto Semeia, organização sem fins lucrativos que atua em prol da valorização das unidades de conservação do país, para os profissionais que atuam no cotidiano dessas áreas, os principais desafios são a falta recursos humanos, financeiros e a carência de estrutura para a visitação.
“Os parques possuem diversos atrativos naturais. Porém, a pesquisa revela que a concretização da experiência dos visitantes para vislumbrar essa riqueza esbarra em desafios de infraestrutura e gestão enfrentados pela administração desses espaços. Vale lembrar que a conexão das pessoas com a natureza compreende uma das missões dos nossos parques”, afirma Mariana Haddad, Coordenadora de Conhecimento no Instituto Semeia e responsável pela realização da pesquisa.
A pesquisa constatou que 58% dos parques não possuem estrutura de apoio à visitação ou a estrutura é precária e não atende às necessidades básicas. Mesmo entre os parques onde há estrutura de apoio, uma parcela significativa dos profissionais ligados à gestão desses espaços declara que a manutenção é inadequada (29%).
Em grande parte dos parques, faltam itens básicos como banheiros (46%), bebedouros (56%) e centro de visitantes (56%). Entre os itens de infraestrutura mínima considerados, as trilhas apresentam maior disponibilidade, estando presentes em 84% das unidades.
Já a avaliação sobre os dois pontos principais de qualquer gestão, recursos financeiros e humanos, releva uma situação ainda mais crítica. A maioria (62%) discorda que tenha à sua disposição o necessário em termos de dinheiro e pessoal para realizar as suas atividades.
“As parcerias são uma importante ferramenta à disposição dos gestores para contornar os desafios de infraestrutura, gestão dos parques, e oferecer melhores serviços aos visitantes. O importante é que não sejam vistas como um fim em si mesmo nem como substitutas do órgãos gestores, que precisam ser fortalecidos e capacitados para gerir adequadamente esses instrumentos.””, diz Fernando Pieroni, diretor-presidente do Instituto Semeia.
Segundo a pesquisa, independentemente da modalidade e contrato firmado, 76% dos parques já possuem ao menos uma parceria com atores tais como: universidades, instituto de pesquisa, terceiro setor, empresas e/ou entidades privadas, associação de amigos, entre outros.
Entre os respondentes há uma constatação de que as parcerias com empresas, entidades privadas e/ou terceiro setor melhoram aspectos funcionais de sua administração. No caso da “gestão em geral”, essa percepção é reconhecida por 72% dos participantes. Na opinião de 80%, melhora também a conservação da natureza, e quase 60% concordam que otimiza o atendimento aos usuários.
“A avaliação geral sobre as parcerias é positiva. Mesmo os parques que não possuem qualquer modalidade de parceria, sinalizam expectativas de melhoria. Para que esses objetivos sejam alcançados, é primordial que todo o ciclo de planejamento e implementação desses projetos leve em consideração a participação dos atores interessados”, explica Mariana Haddad.
No que tange ao fortalecimento dos órgãos gestores, a maior parte já conta com profissionais qualificados e experientes: 59% atuam há mais de 6 anos na área de parques. Outro dado importante é que 73% têm formação focada em gestão de parques, incluindo temas como uso público, pesquisa, fiscalização, planejamento e gestão de conflitos.
Potencial ainda não explorado
Na visão dos entrevistados, os principais atrativos que os parques oferecerem à população possibilitam o contato com a natureza: flora (84%), fauna (70%) e trilhas (75%).
Entre as principais atividades disponíveis estão: observação de fauna, caminhadas de até um dia, piquenique e banho de mar/cachoeira/lago. Entretanto, considerando 26 atividades e a vocação do parque para desenvolvê-las, em apenas 4 há uma proporção maior da presença da atividade do que o potencial para sua implantação. A observação da fauna, por exemplo, já está presente em 60% dos parques e vista como vocação para outros 37%.
Para as demais 22 atividades, os parques relatam uma proporção maior de vocação para desenvolvê-las do que a existência de um aproveitamento efetivo. É o caso de atividades mais complexas, pois demandam requisitos de segurança e constante manutenção de estruturas, como tirolesa, presente em apenas 3% das unidades, mas vista como vocação em 59%.
Sobre a pesquisa
O objetivo principal do Diagnóstico do Uso Público em Parques Brasileiros: A Perspectiva da Gestão é mapear a situação da visitação nos parques naturais brasileiros a partir da perspectiva dos profissionais que atuam no cotidiano dessas áreas –principalmente gestoras e gestores. O levantamento é realizado pelo Instituto Semeia desde 2012 e passou a ser realizado bianualmente a partir de 2019.
O universo amostral compreende os parques naturais brasileiros registrados no CNUC – Cadastro Nacional das Unidades de Conservação, no 2° semestre de 2021. Esta edição contou com a participação de 73% dos parques do CNUC, e teve uma boa representatividade nas esferas administrativas (nacional, estadual e municipal), biomas, estados e regiões brasileiras. O período de coleta de dados foi de 20/06/2022 a 29/09/2022.
Os aspectos mapeados pela pesquisa estão relacionados à visitação, disponibilidade de recursos humanos, financeiros, a situação dos instrumentos específicos relacionados à gestão dos parques (plano de manejo, regularização fundiária, conselho consultivo e regularização fundiária), a existência e as expectativas com as parcerias e contratos que apoiam a administração desses espaços.