Dia Nacional da Mata Atlântica: o que ainda nos resta preservar – e como seguir em frente

Por Sérgio Melo
Quem já fez o trajeto entre Campina Grande e João Pessoa pela BR-230 há algumas décadas, talvez carregue a mesma memória que me acompanha até hoje: bastava passar o Cajá para ser abraçado por um verdadeiro corredor verde. Era como atravessar um templo natural da Mata Atlântica, com suas sombras úmidas, o canto abafado dos pássaros e a luz filtrada por copas densas. A estrada parecia desenhar um túnel no meio da floresta — silencioso, grandioso, profundamente vivo. Hoje, esse cenário está, em grande parte, ausente.
A paisagem mudou. O que era exuberância e vida se transformou em clareiras, pastos e monoculturas. E, mesmo sabendo que a degradação da Mata Atlântica é um processo de longa data, não podemos continuar normalizando a destruição de um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta. A boa notícia é que há avanços concretos que merecem ser destacados — e celebrados com responsabilidade.
Neste 27 de maio, Dia Nacional da Mata Atlântica, o governo federal anunciou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas na Mata Atlântica (PPMata Atlântica). Pela primeira vez, o Brasil conta com planos de ação específicos para todos os seus seis biomas. É um passo histórico na direção de uma política ambiental sistêmica, baseada em ciência, metas e compromisso institucional.
O novo plano da Mata Atlântica articula quatro eixos fundamentais:
- Atividades produtivas sustentáveis
- Monitoramento e controle ambiental
- Ordenamento fundiário e territorial
- Instrumentos normativos e econômicos
São 13 objetivos estratégicos, com 44 linhas de ação e 132 metas, todas amparadas por prazos, indicadores e atores responsáveis. O plano busca não apenas conter o desmatamento, mas criar condições reais para a transição ecológica, incluindo ações de restauração da vegetação nativa e uso sustentável dos recursos naturais — alinhando o país à meta de desmatamento zero até 2030.
A Paraíba, que abriga fragmentos preciosos da Mata Atlântica, precisa se ver incluída nesse pacto nacional. Ainda temos áreas importantes a preservar — principalmente em regiões como o litoral norte, a Serra da Borborema e parte do agreste paraibano. Também é urgente recuperar áreas degradadas e investir em políticas públicas que valorizem a sociobiodiversidade local, os saberes tradicionais e a produção sustentável em territórios rurais e urbanos.
Esse plano chega com força política: foi aprovado pela Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento (CIPPCD), com participação de 18 ministérios, e tem coordenação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. A parceria com organismos internacionais, como a GIZ (Agência Alemã de Cooperação Internacional), também garante que a implementação terá suporte técnico de alto nível.
Mas nada disso terá valor real se não nos apropriarmos dessas conquistas. Preservar a Mata Atlântica não é apenas uma missão governamental: é uma responsabilidade coletiva. Das escolas às prefeituras, dos produtores rurais às redes de pesquisa, todos podemos — e devemos — participar dessa virada ecológica.
No que depender de mim e do Paraíba Cultural, estaremos atentos, cobrindo, apoiando e promovendo ações em defesa da nossa Mata Atlântica. Que aquele túnel verde do passado inspire um futuro em que a paisagem, a cultura e a vida voltem a se entrelaçar — com equilíbrio, beleza e pertencimento.