O Museu do Diamante brilha no cenário internacional com práticas sustentáveis e protagonismo feminino

Mulheres do Vale do Jequitinhonha em oficinas no Museu do Diamante – Foto: Acervo/Ibram
Por Sérgio Melo | Paraíba Cultural
Foi com imensa alegria que li, no site do Ministério da Cultura, a notícia de que o Museu do Diamante, localizado em Diamantina (MG) e vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), está entre os selecionados para a longlist do Prêmio ICOM de Prática de Desenvolvimento Sustentável em Museus 2025. Como jornalista ambiental e cultural, sempre me emociono ao ver iniciativas brasileiras ganhando destaque internacional, especialmente quando elas nascem da escuta sensível dos territórios e do protagonismo das mulheres.
O projeto inscrito pelo museu valoriza, de forma exemplar, a identidade territorial e o empoderamento das mulheres do Vale do Jequitinhonha, uma região historicamente marcada por desigualdades sociais, mas também por uma cultura vibrante e uma força criativa admirável. Entre mais de 130 projetos de 60 países, o Brasil marca presença com uma proposta profundamente transformadora — daquelas que não apenas preenchem relatórios, mas tocam vidas de verdade.
Cultura como ferramenta de emancipação
O que mais me chamou a atenção foi a forma como o museu construiu a ação junto à comunidade, especialmente com mulheres que enfrentam múltiplas vulnerabilidades. Através de oficinas de arte e educação, o projeto transforma resíduos recicláveis em echarpes simbólicas — não apenas por sua beleza estética, mas pelo processo coletivo que representa. Segundo a diretora do museu, Cássia Tatiane Teixeira, “queremos mostrar que com pouco se pode fazer muito, e que a cultura pode ser uma ferramenta de emancipação e fortalecimento”.
Essa frase reverbera profundamente em mim. No sertão da Paraíba, onde atuo com projetos de educação ambiental e cultural, sei o quanto recursos limitados desafiam a criatividade das equipes, mas também revelam uma potência enorme quando há envolvimento coletivo e fé no processo. E é exatamente isso que o Museu do Diamante simboliza: resiliência, planejamento e cooperação.
Três pilares sustentáveis
O projeto que concorre ao Prêmio ICOM se apoia em três eixos que deveriam inspirar museus de todo o país:
- Educação para a sustentabilidade – voltada a mulheres, crianças e adolescentes, por meio de oficinas que estimulam o pensamento crítico, a consciência ambiental e o uso criativo de materiais recicláveis;
- Relação com o território – conectando o acervo histórico do museu com os desafios e saberes locais, resgatando memórias e projetando futuros possíveis;
- Gestão de recursos com consciência – apesar das limitações estruturais e orçamentárias, a equipe articula parcerias e realiza ações de grande impacto social.
Os verdadeiros diamantes
Ao ler as palavras de Cássia em entrevista ao Ibram, senti o coração apertar: “Os verdadeiros diamantes do Museu do Diamante são as pessoas que o mantêm vivo”. É isso. Quem trabalha com cultura, especialmente nos interiores do Brasil, sabe que são essas pessoas — muitas vezes invisíveis nas estatísticas — que movem as engrenagens dos museus, centros culturais e projetos comunitários.
Mesmo com equipe reduzida e sede temporária, o Museu do Diamante segue vivo, criando, inspirando, dialogando. Como diz a diretora, com esperança de que o futuro traga restauro, fortalecimento e retorno à sede original, o museu não perde de vista o sonho — e é isso que torna tudo tão genuíno.
De Diamantina para Dubai
A 27ª Conferência Geral do ICOM, marcada para 2025 em Dubai, será o palco da próxima etapa dessa história inspiradora. “Estamos pisando no chão do Vale do Jequitinhonha, mas de olho em Dubai”, disse Cássia, entre risos e firmeza. E que bom que é assim. O chão do Jequitinhonha, fértil de cultura, merece ecoar mundo afora.
Enquanto acompanhamos esse caminho até o anúncio dos finalistas, deixo aqui meu aplauso, minha admiração e minha torcida. Que essa conquista sirva de inspiração para tantas outras instituições brasileiras que atuam na base, com poucos recursos, mas com um oceano de criatividade e coragem.
Que mais museus e projetos culturais olhem para o que o Museu do Diamante está fazendo. E que o Brasil, através de iniciativas como essa, continue mostrando ao mundo que desenvolvimento sustentável e cultura de base caminham juntos — e podem, sim, transformar realidades.
Sobre o Prêmio ICOM
Criado pelo Conselho Internacional de Museus, o Prêmio de Prática de Desenvolvimento Sustentável em Museus é a primeira premiação global dedicada a reconhecer instituições culturais que integram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU às suas práticas cotidianas. Os projetos finalistas serão revelados durante a Conferência Geral do ICOM em Dubai, em 2025.
Texto: Sérgio Melo | Paraíba Cultural
Fonte da notícia original: Site do Ministério da Cultura