Um estudo de contrastes entre Porto Alegre e Campina Grande, mostra o que é necessário para plantar uma árvore em suas ruas
Plantar uma árvore em uma área urbana pode parecer uma tarefa simples, mas é um processo que exige planejamento e conhecimento, especialmente quando se trata de áreas públicas. No Brasil, algumas cidades têm avançado significativamente em suas políticas de arborização urbana, como é o caso de Porto Alegre, que conta com um Plano Diretor de Arborização Urbana detalhado e robusto. No entanto, quando comparamos com a realidade de Campina Grande, vemos um cenário bem diferente, marcado por desafios e oportunidades.
Arborização Urbana em Porto Alegre: Um modelo estruturado
Em Porto Alegre, o processo de plantio de árvores em áreas públicas é regido por um conjunto de normas claras e bem definidas, sob a supervisão da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus). A população tem um papel ativo, podendo plantar árvores por conta própria, desde que siga os requisitos técnicos estabelecidos, ou solicitar que a prefeitura o faça. A seleção de espécies é feita com base em critérios ecológicos, priorizando plantas nativas do Rio Grande do Sul e autóctones de Porto Alegre, garantindo que as árvores sejam adaptadas ao clima e solo locais, contribuindo para a biodiversidade e a resiliência do ecossistema urbano.
Esse modelo oferece vantagens claras, como a garantia de que as árvores plantadas serão mais resistentes a pragas e bem adaptadas ao ambiente, além de promoverem a fauna local. A Smamus realiza estudos de viabilidade técnica e vistorias antes de qualquer plantio, assegurando que as condições sejam ideais, o que minimiza problemas futuros, como o levantamento de calçadas ou a interferência em infraestruturas urbanas.
Campina Grande e o programa Minha Árvore: Desafios e oportunidades
Em contraste, Campina Grande possui o Programa Minha Árvore, uma iniciativa louvável da Prefeitura Municipal, mas que apresenta fragilidades quando comparado ao modelo de Porto Alegre. O programa, desenvolvido pela Secretaria de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (SESUMA), tem como objetivo principal aumentar a cobertura vegetal do município. Ele envolve a comunidade, especialmente estudantes da rede municipal, no plantio de mudas, com a supervisão de técnicos.
Apesar de bem-intencionado, o programa carece de diretrizes claras e planejamento estratégico em relação às espécies que podem ser plantadas. Ao contrário de Porto Alegre, onde há uma lista específica de árvores permitidas e um processo de avaliação técnica rigoroso, em Campina Grande não há um conjunto de normas bem estabelecido que oriente o plantio, o que pode resultar em escolhas inadequadas de espécies para o ambiente urbano local.
Além disso, a falta de estudos de impacto ambiental e de dados sobre a eficácia das ações dificulta a avaliação dos reais benefícios do programa. Embora a SESUMA tenha investido em infraestrutura, como caminhões pipas para irrigação e viveiros para produção de mudas, a sustentabilidade a longo prazo do projeto ainda é incerta.
A Importância de políticas integradas e participativas
A comparação entre as duas cidades revela a importância de uma abordagem integrada e participativa para a arborização urbana. Porto Alegre serve como exemplo de como políticas bem estruturadas e baseadas em dados podem garantir uma arborização eficaz, que beneficia tanto o meio ambiente quanto a população. Em Campina Grande, o Programa Minha Árvore representa um esforço positivo, mas que precisa de aprimoramentos para alcançar seu potencial máximo.
Para que Campina Grande possa se tornar uma cidade mais verde e sustentável, é essencial que se adote uma estratégia semelhante à de Porto Alegre, com a criação de um Plano Diretor de Arborização Urbana, que inclua uma lista de espécies recomendadas, estudos de impacto e um envolvimento ainda maior da comunidade, não apenas no plantio, mas também no cuidado e monitoramento das árvores plantadas.
Em suma, enquanto Porto Alegre se destaca por seu planejamento e execução exemplares, Campina Grande tem a oportunidade de evoluir, aprendendo com as melhores práticas de outras cidades para aprimorar seu programa de arborização e garantir uma cidade mais verde e saudável para todos.