A urgência de proteger a Caatinga: reflexões sobre a Operação Mandacaru do Ibama

Foto; Divulgação IBAMA
Por Sérgio Melo
Nos primeiros dias deste mês, o Ibama concluiu mais uma etapa da Operação Mandacaru, que teve como foco o combate ao desmatamento ilegal e às infrações ambientais no Sertão da Paraíba. O saldo dessa ação é contundente: 993 hectares de áreas desmatadas foram embargadas, além da apreensão de maquinário utilizado nas práticas ilícitas. As multas aplicadas chegaram a R$ 4,1 milhões, um valor expressivo, mas ainda pequeno diante da grande importância que a Caatinga tem para todos nós.
Como jornalista e gestor ambiental, não posso deixar de destacar a urgência de um planejamento coordenado que envolva não apenas o Ibama, mas também os órgãos estaduais, como a Secretaria de Meio Ambiente da Paraíba (Semas) e a SUDEMA, além de prefeituras, universidades, associações e, claro, a sociedade civil. O enfrentamento da destruição da Caatinga não pode ser pontual; precisa ser contínuo, integrado e, sobretudo, estratégico.
A Caatinga pede socorro
A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, presente em mais de 80% do território paraibano. Ela abriga uma biodiversidade única, com espécies endêmicas como o mandacaru (Cereus jamacaru), que simboliza a resistência e a adaptação ao semiárido. Sua importância vai além da fauna e da flora: a Caatinga regula a água, protege o solo, fornece recursos para populações locais e sustenta práticas agrícolas e extrativistas.
No entanto, o que vemos é um ciclo de degradação que compromete esses serviços ecossistêmicos. Desmatamentos ilegais, queimadas e exploração predatória corroem o equilíbrio desse bioma. A cada hectare perdido, comprometemos não apenas a biodiversidade, mas também a sobrevivência das comunidades que dependem da Caatinga para viver.
O papel da fiscalização e da sociedade
Operações como a Mandacaru são essenciais, mas não podem caminhar sozinhas. É preciso fortalecer a presença de fiscais, ampliar o monitoramento por satélite e garantir o cumprimento efetivo das multas e embargos. Mais do que isso: é urgente criar planos de manejo sustentáveis, incentivar a pesquisa científica e oferecer alternativas econômicas que substituam as práticas destrutivas.
A sociedade civil paraibana também tem sua responsabilidade. Precisamos valorizar a Caatinga como patrimônio vivo, cobrar políticas públicas consistentes e apoiar iniciativas que promovam educação ambiental, reflorestamento e conservação. Sem esse engajamento coletivo, continuaremos reféns de uma lógica predatória que ameaça o futuro do semiárido.
Um chamado à ação
A Operação Mandacaru mostra que o Estado tem instrumentos para agir, mas reforça também o tamanho do desafio que temos pela frente. A Caatinga não pode ser vista apenas como cenário ou obstáculo climático: ela é vida, cultura, resistência e futuro.
Se quisermos assegurar um amanhã sustentável, precisamos agir agora. O Ibama deu um passo importante; cabe a nós, paraibanos e brasileiros, fazermos nossa parte para que esse bioma continue existindo — para além das páginas dos relatórios ambientais, mas como herança viva para as próximas gerações.
Operação Mandacaru — Proteção da Caatinga na Paraíba
Próximos passos do poder público
- Intensificar fiscalizações e o monitoramento das áreas embargadas.
- Garantir cumprimento de multas e restrições impostas.
- Plano integrado entre Semas, Sudema e prefeituras (combate e prevenção).
- Fomentar recuperação de áreas degradadas e manejo sustentável.
Como a sociedade pode agir
- Denunciar desmatamentos e queimadas nos canais oficiais (Ibama, Semas, Sudema).
- Participar de ações de educação ambiental e mutirões de restauração.
- Valorizar cadeias produtivas sustentáveis (Sistemas Agroflorestais, uso racional da biomassa).
- Apoiar pesquisas, ONGs e projetos de conservação da Caatinga.
Urgência: a Caatinga é bioma exclusivamente brasileiro e vital para água, solo e biodiversidade no semiárido. A proteção depende de ação contínua e coordenada entre Estado e sociedade.
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Sérgio Melo
Jornalista e Gestor Ambiental. Coordenador de projetos de Educação Ambiental no portal Paraíba Cultural e no Q-Ideia – Design e Comunicação. Atua em ações integradas de sustentabilidade, cultura e desenvolvimento territorial no Estado da Paraíba.