12 espécies ameaçadas são registradas em reserva protegida na Mata Atlântica
Monitoramento por câmeras em espaço preservado no Paraná comprova que áreas protegidas são estratégicas para salvar espécies ameaçadas
Com base em mais de 4 mil registros de animais feitos ao longo de 10 anos de monitoramento de fauna na Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba (PR), a área de Mata Atlântica mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza abriga ao menos 12 espécies ameaçadas de extinção. O levantamento feito por pesquisadores do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar reforça a importância de áreas protegidas como estratégia de conservação e preservação de habitats.
Entre os animais avistados em Salto Morato estão o gato-mourisco, a jacutinga e a anta. Ao todo, já foram catalogadas na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) 638 espécies de aves (61%), mamíferos, répteis e anfíbios. “A Mata Atlântica é o bioma que possui mais espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção, sobretudo por ser um hotspot, área que possui muita riqueza natural e espécies endêmicas, que só são encontradas ali. Ter nossa reserva como refúgio para parte dessas espécies que estão ameaçadas é um grande indicativo, pois mostra que a área possibilita habitats saudáveis suficientemente capazes de abrigar espécies com tamanha importância para a conservação do bioma”, afirma a gerente da Reserva Natural Salto Morato, Ginessa Lemos.
Os felinos merecem destaque entre os registros. Foram seis espécies avistadas, sendo cinco delas ameaçadas de extinção segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN): gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi), onça-pintada (Panthera onca), gato-do-mato (Leopardus guttulus), onça-parda ou puma (Puma concolor) e gato-maracajá (Leopardus wiedii). Entre as aves, destacam-se a jacutinga (Aburria jacutinga), importante dispersora das sementes da palmeira-juçara (Euterpe edulis), planta ameaçada de extinção; e o raro gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus) espécie endêmica do Brasil associada a florestas em bom estado de conservação.
“A presença de grandes mamíferos como a onça-pintada e o puma é um importante indicador de qualidade de habitat em ampla escala, uma vez que são animais que precisam de grandes áreas preservadas para reprodução, refúgio e alimentação, participando do equilíbrio da cadeia alimentar. Nesse sentido, elas são consideradas espécies-chave para avaliar a qualidade ambiental da reserva e orientar ações estratégicas de conservação”, explica a gerente sênior de Conservação da Natureza da Fundação Grupo Boticário, Leide Takahashi, destacando que Salto Morato faz parte da Grande Reserva Mata Atlântica, o maior remanescente contínuo do bioma no mundo, que engloba 60 municípios de Paraná, Santa Catarina e São Paulo, e também está em uma área reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade.
Outro fato a ser comemorado é o aumento de registros de indivíduos adultos acompanhados por filhotes. Os avistamentos de animais com suas crias ao longo do monitoramento, principalmente das espécies que são topo da cadeia alimentar, como os felinos, também são um indicador positivo de conservação, pois mostram que áreas protegidas cumprem um papel essencial na preservação de habitats naturais, na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas e na manutenção de populações viáveis da fauna local.
“Em 2021 e 2022, tivemos o maior número de registro de espécies adultas com filhotes. Ao todo foram seis: dois de gato-mourisco, um de onça-pintada, um de gato-do-mato e outro de jaguatirica. Em 2021, tivemos o primeiro registro de filhote de puma. Isso é uma grande vitória para a conservação”, exalta Lemos. “Infelizmente, são registros que também nos trazem alertas e que não podem ser tão divulgados com a frequência que gostaríamos por atraírem a atenção de caçadores”, completa, lembrando ainda que outros métodos de monitoramento, como o registro de pegadas, vocalizações e avistamentos diretos, já identificaram outras duas espécies ameaçadas na reserva.
Existem muitas espécies ameaçadas de extinção devido a alterações no habitat. O aumento do desmatamento coloca cada vez mais em risco a sobrevivência desses animais. De acordo com dados da Lista Vermelha de espécies ameaçadas da IUCN, são cerca de 7,1 mil espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios em vulnerabilidade ou risco de extinção no mundo. Entre os biomas mais ameaçados está a Mata Atlântica. De acordo com dados do Atlas da Mata Atlântica, divulgado em maio deste ano, no período de 2020 e 2021, o desmatamento do bioma foi de 21.642 hectares, valor 66% maior que o registrado entre 2019 e 2020 (13.053 hectares).
Armadilhas fotográficas
A “câmera trap” ou armadilha fotográfica ajuda os biólogos e pesquisadores a identificarem muitas espécies de animais que não seria possível com outros métodos em campo, permitindo uma observação privilegiada das espécies em seu habitat natural. A câmera funciona com sensores de movimento e infravermelho. Quando um animal passa pela frente do equipamento, fotos ou vídeos do momento são registrados.
“É essencial ter a tecnologia como aliada para a manutenção da biodiversidade nessas áreas. Os equipamentos proporcionam aos pesquisadores um acompanhamento mais preciso da fauna e também contribuem para recomendar aos gestores das áreas novas medidas de proteção”, diz o biólogo e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), Roberto Fusco, responsável pelo Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar..
A Reserva Natural Salto Morato faz parte da Rede de Monitoramento de Mamíferos da Serra do Mar, iniciativa coordenada pelo Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) e Instituto Manacá, como uma proposta de ação multi-institucional e colaborativa para a conservação e o monitoramento em larga escala de grandes mamíferos. As ações da Rede de Monitoramento abrangem uma área de mais de 17.000 km2 de floresta contínua que engloba um mosaico e grande corredor de áreas protegidas na Serra do Mar/Lagamar no Paraná e sul de São Paulo.
Sobre a Fundação Grupo Boticário
Com 32 anos de história, a Fundação Grupo Boticário é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para proteger a natureza brasileira. A instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e em políticas públicas e apoia ações que aproximem diferentes atores e mecanismos em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou cerca de 1.600 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas áreas de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com mais de 1,2 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A Fundação é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. Sites: www.fundacaogrupoboticario.
Sobre a Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reúne cerca de 80 profissionais de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior que trazem ao trabalho que desenvolvem a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. São juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas, professores universitários – de referência nacional e internacional – que se voluntariaram para serem porta-vozes da natureza, dando entrevistas, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo informações de reportagens das mais diversas editorias. Criada em 2014, a Rede é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores. Acesse o Guia de Fontes em www.fundacaogrupoboticario.