A importância da Feira de Campina Grande como Patrimônio Cultural Brasileiro

 A importância da Feira de Campina Grande como Patrimônio Cultural Brasileiro

A histórica Feira de Campina Grande, localizada entre o litoral e o sertão paraibano, alcançou um marco significativo ao ser registrada como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 27 de setembro de 2017. O reconhecimento do bem é uma contribuição para a preservação da memória, da identidade e do cotidiano das comunidades locais.

O processo de registro foi conduzido pela Superintendência do Iphan na Paraíba entre os anos de 2013 e 2016. Para isso, a equipe técnica contou com o apoio de consultores, ativistas, estudantes, pesquisadores, e dos próprios feirantes, que participaram como colaboradores e agentes políticos, com objetivo de avaliar e direcionar os caminhos do processo.

Não é novidade que Campina Grande é reconhecida como a capital do São João no Brasil, e obtém o título de “Maior São João do Mundo”, por reunir shows, quadrilhas, comidas típicas, religiosidade, vestimentas e outras práticas. Por isso, a atuação do Iphan na proteção dessas diversas tradições culturais relacionadas às Festas Juninas tem buscado valorizar e promover o São João como manifestação viva do patrimônio. É por meio do trabalho do órgão que muitas delas são reconhecidas e fomentadas como bens culturais imateriais do Brasil.

Aliada a outras grandes feiras nordestinas como a de Caruaru (CE) e a de São Joaquim (BA), a Feira de Campina Grande reúne artefatos e sotaques em um só lugar e demonstra, por meio das mais diversas mercadorias, os modos de ser e viver da população local. Mais do que um espaço de comércio, a “Feira das Feiras”, como também é conhecida, constitui um centro de comunicação, onde a memória coletiva funciona como arquivo vivo.

Ao longo de 75 mil metros quadrados distribuídos em nove ruas paralelas e perpendiculares, o comércio funciona de segunda-feira a sábado, e oferece produtos no atacado e no varejo, algodão, couro, carne, queijo, rapadura, mandioca e todo tipo de alimento e utensílio de casa e trabalho. Nela, além dos ofícios e atividades de produção artesanal e comércio de todo tipo de mercadoria, acontecem inúmeras manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, e forjam-se profissões, transmitidas nos círculos familiares, comunitários ou nas relações de apadrinhamento e vizinhança.

Para o Superintendente do Iphan na Paraíba, Emanuel Braga, a feira é um marco para o país. “A Feira Central de Campina Grande é um lugar cada vez mais raro em nosso dia a dia de cidadão comum que precisa fazer uma “feira”. Ela não apenas guarda como também circula, em seu comércio absolutamente diverso, a memória de jeito próprio de nos relacionarmos com o mercado, especialmente para nós filhos de sertanejos, filhos de feirantes, como eu sou. Hoje o mercado está tomado por relações frias, do interesse puro e simples de comprar e vender coisas. O que se buscou registrar na Feira foi essa arte de se relacionar com a pessoas, o feirante, o freguês, a pechincha, o olho no olho, o ‘saber da vida alheia’, que é uma certa sofisticação do jeito brasileiro de lidar com o trabalho e com a vida como um todo”, ressaltou Braga.

A céu aberto, a feira também é espaço de resistência, luta e resiliência. “Pelo seu caráter popular e livre, a Feira de Campina teve que lidar com várias ameaças à sua existência, tendo se deslocado ao longo do tempo, sempre assediada por projetos de remoção. O registro reconheceu a resistência histórica da Feira, a salvaguarda pactuou o que devemos fazer para melhorar suas condições, que são muito precárias, é importante dizer. E, sobretudo, oportunizou a voz dos feirantes para seguir conquistando seus espaços em busca do retorno a um tempo em que uma feira boa só se fazia no mercado central da velha Feira”, afirmou Emanuel.

 

 

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