Arborização e segurança hídrica na Paraíba: A importância do tratamento de águas residuais e a proteção de rios e açudes
Artigo: Sérgio Melo
A questão da arborização e da segurança hídrica tem ganhado destaque na Paraíba, um estado que enfrenta desafios climáticos e hídricos significativos, mas que também possui um potencial considerável para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. O tratamento das águas de esgoto e a recuperação de rios e açudes são aspectos fundamentais para a sustentabilidade das cidades paraibanas, como João Pessoa e Campina Grande, garantindo não apenas o cumprimento das leis ambientais e hídricas, mas também a qualidade de vida para a população e a preservação dos ecossistemas locais.
A Importância do tratamento de águas residuais
O tratamento adequado das águas residuais nas cidades paraibanas é um ponto-chave para a proteção dos recursos hídricos e para a saúde pública. As águas de esgoto sanitário, quando não tratadas, podem contaminar os corpos d’água, como rios e açudes, que muitas vezes são fontes de abastecimento e lazer para as comunidades. Além disso, a contaminação compromete a fauna e a flora aquáticas, impactando negativamente o equilíbrio ambiental.
Estatísticas recentes mostram que no Brasil, apenas cerca de 50% do esgoto é tratado antes de ser lançado nos corpos d’água, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Na Paraíba, esse número pode ser ainda mais desafiador, especialmente em municípios de menor porte que enfrentam dificuldades estruturais e financeiras para a implementação de sistemas de saneamento adequados. No entanto, o avanço do tratamento de esgoto em cidades como João Pessoa, onde a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) tem investido na ampliação da cobertura de esgotamento sanitário, é um exemplo de que é possível evoluir nesse aspecto.
Arborização urbana e segurança hídrica
A arborização urbana desempenha um papel importante na regulação hídrica das cidades, contribuindo para a redução da temperatura ambiente, a melhora da qualidade do ar, e a retenção de águas pluviais. Em cidades como Campina Grande, a presença de árvores nas áreas urbanas ajuda a mitigar os efeitos de enchentes durante os períodos chuvosos, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade de vida dos habitantes. Estudos indicam que a cobertura vegetal adequada pode reduzir em até 25% a carga de escoamento superficial das águas das chuvas, o que é fundamental para cidades que enfrentam períodos de seca e de chuvas intensas.
Rios e açudes: A urgência de estudos e tratamentos
Os rios e açudes desempenham um papel vital no abastecimento hídrico das cidades e no suporte à agricultura na Paraíba, um estado onde a seca é uma constante. O açude Epitácio Pessoa (Boqueirão), que abastece Campina Grande e outras cidades do Agreste paraibano, é um exemplo de como a gestão hídrica é fundamental para a segurança da região. A transposição do Rio São Francisco, que contribui para o abastecimento do açude, destacou a importância de medidas estruturais para a segurança hídrica no semiárido.
No entanto, além dessas grandes obras, é essencial investir em estudos e tratamentos das águas dos rios e açudes. A recuperação de áreas degradadas nas margens dos rios, o reflorestamento com espécies nativas e a implantação de programas de despoluição são fundamentais para preservar a qualidade das águas e garantir o uso sustentável desses recursos. Esses esforços precisam estar alinhados com o cumprimento da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Código Florestal, que estabelecem diretrizes para a preservação de áreas de preservação permanente (APPs) ao longo dos cursos d’água.
Exemplos de sucesso no Brasil
Diversas cidades brasileiras têm investido em projetos de saneamento e recuperação hídrica que podem servir de exemplo para a Paraíba. Em nível nacional, cidades de pequeno e médio porte, como Itajubá (MG) e Jaraguá do Sul (SC), têm se destacado pela adoção de tecnologias de tratamento de esgoto e pela recuperação de nascentes. Essas cidades mostraram que, com investimentos direcionados e políticas públicas eficazes, é possível garantir uma gestão sustentável dos recursos hídricos, mesmo com orçamentos limitados.
João Pessoa também tem adotado medidas importantes para a proteção de seus recursos naturais. A capital paraibana, que possui uma das maiores reservas de Mata Atlântica urbana do Brasil, a Mata do Buraquinho, investe na manutenção de áreas verdes e na proteção dos rios que cortam a cidade, como o Rio Jaguaribe. Projetos de recuperação de matas ciliares e reflorestamento têm sido essenciais para a proteção dos cursos d’água e para a conservação dos aquíferos subterrâneos que abastecem a cidade.
Outro exemplo relevante é a cidade de São Carlos, em São Paulo, que implantou um programa de reuso de águas residuais, reduzindo a pressão sobre os mananciais. A cidade conseguiu aproveitar as águas tratadas para usos industriais e de irrigação, uma prática que poderia ser adaptada para a realidade das cidades da Paraíba, promovendo um uso mais eficiente dos recursos hídricos.
Conclusão
A arborização e a segurança hídrica são fundamentais para a sustentabilidade das cidades paraibanas e para a qualidade de vida de seus habitantes. Investir no tratamento de esgoto e na proteção dos rios e açudes é uma forma de garantir o uso sustentável dos recursos hídricos e de cumprir as leis ambientais vigentes. Além de melhorar a qualidade da água, esses investimentos contribuem para a preservação da biodiversidade e para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, que já impactam o estado da Paraíba.
A exemplo de outras cidades brasileiras, a Paraíba pode avançar na gestão de seus recursos hídricos por meio de políticas públicas, parcerias com instituições de pesquisa e o engajamento da comunidade. Com isso, será possível alcançar um equilíbrio entre desenvolvimento urbano e preservação ambiental, garantindo um futuro mais sustentável para todos.