Baraúna e Caatinga em alerta: precisamos cuidar agora

A árvore símbolo do semiárido brasileiro está ameaçada de extinção. Preservar a baraúna é preservar o futuro da Caatinga.
Por Sérgio Melo
“Reflorestar é um ato de coragem. Conservar é resistir. A Caatinga tem sede de cuidado.”
Foi numa conversa inspiradora com o amigo e articulador cultural Zé Luan, da Associação Baraúna Cultural, que meu interesse pela árvore que dá nome à sua organização se acendeu. A gente discutia os planos da Associação, que hoje já é reconhecida como Ponto de Cultura, e a necessidade de uma identidade visual que representasse a força do seu trabalho. Fiquei encarregado de criar a marca – uma das minhas paixões é o design gráfico – e mergulhei no universo da baraúna (Schinopsis brasiliensis). O que encontrei foi uma espécie tão simbólica quanto esquecida, tão forte quanto ameaçada.
A baraúna é uma árvore nativa da Caatinga e figura hoje na lista oficial de espécies ameaçadas da flora brasileira, na categoria “vulnerável”, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Seu nome ecoa resistência, mas sua realidade revela fragilidade: é vítima da exploração desenfreada por conta da sua madeira densa, resistente e altamente valorizada, usada para cercas, mourões, vigas e construções rústicas. O corte é proibido, mas ainda acontece de forma ilegal e silenciosa, sem que haja qualquer reposição significativa em seu habitat natural.
Enquanto isso, a desertificação avança. A perda de cobertura vegetal nativa ameaça o equilíbrio do bioma e empobrece o solo, a fauna e a vida das comunidades tradicionais que convivem com a Caatinga há séculos. A baraúna, por suas características ecológicas, poderia ser uma aliada crucial nesse enfrentamento: sua presença enriquece o solo, oferece sombra e abrigo, e fortalece os ecossistemas locais. Mas, sem políticas de conservação ativas e reposição em larga escala, ela pode desaparecer em poucas gerações.
É aqui que entra a urgência de um pacto coletivo.
Universidades, Jardins Botânicos, Associações Ambientais e Culturais, como a própria Baraúna Cultural, precisam se unir à iniciativa pública e privada para impedir que essa espécie desapareça do nosso semiárido. Projetos como o Programa Arboretum, na Bahia, e iniciativas da UNIVASF e NEMA já mostram que é possível promover viveiros, protocolos de semeadura e reflorestamento com espécies nativas ameaçadas, como a baraúna, com sucesso técnico e impacto social. A Embrapa também oferece subsídios científicos fundamentais para apoiar ações nesse sentido.
O reflorestamento com espécies vulneráveis é mais que uma ação ecológica – é um movimento de pertencimento e defesa do nosso patrimônio natural. Como diz o ditado popular adaptado ao sertão: “Quem planta baraúna, semeia o futuro.”
A Caatinga paraibana, com sua biodiversidade única e clima propício à regeneração quando bem manejado, pode se tornar referência em conservação. Para isso, é preciso investir em projetos que envolvam as comunidades locais, ofereçam formação em educação ambiental, capacitação para manejo e reflorestamento, e promovam cadeias produtivas sustentáveis que valorizem a natureza sem destruí-la.
A Associação Baraúna Cultural, que já faz um trabalho incrível no campo sociocultural, pode – e deve – ser uma dessas protagonistas. E quem sabe, com a nova marca que estamos preparando, ela passe a carregar também o símbolo da própria árvore que inspira sua luta: resistente, resiliente e cheia de histórias para contar.
Que essa semente lançada aqui hoje encontre solo fértil. Em breve, apresento a vocês a nova identidade visual da Associação Baraúna Cultural. E seguimos firmes com o compromisso de que cultura e natureza caminhem lado a lado na construção de um futuro mais justo, vivo e enraizado no nosso chão.
“A baraúna não pode morrer. E a gente também não pode deixar que morra a vontade de lutar por ela.”