Educação Ambiental nas escolas privadas de Campina Grande: Caminhos para uma transformação sustentável

Alunos em atividade ao ar livre no Jardim Botânico da UEPB, espaço estratégico para educação ambiental em Campina Grande. Foto: Sérgio Melo / Paraíba Cultural
Por Sérgio Melo | Paraíba Cultural
Campina Grande é uma cidade estratégica do ponto de vista educacional, econômico e ambiental. Localizada no coração da Paraíba, às margens do Planalto da Borborema, nossa cidade está situada em uma das regiões mais interessantes e desafiadoras do ponto de vista ambiental do Brasil. Aqui, convivem múltiplos ecossistemas e realidades socioculturais: estamos cercados pelo semiárido da Caatinga, com influência direta de biomas e sub-regiões como o Brejo Paraibano, a Zona da Mata, o Curimataú, o Cariri e o Sertão. Essa diversidade de paisagens, saberes e desafios ambientais coloca Campina Grande em uma posição única para liderar práticas pedagógicas voltadas à sustentabilidade e à formação cidadã por meio da educação ambiental.
Mas, apesar de toda essa riqueza ambiental e cultural ao nosso redor, a educação ambiental ainda é tratada por muitas escolas privadas como algo pontual, restrito a datas comemorativas. Em tempos de crise climática, degradação dos recursos naturais e urbanização acelerada, esse modelo não se sustenta mais. É hora de transformar a educação ambiental em um eixo estruturante do projeto pedagógico das escolas. E isso só será possível por meio de parcerias estratégicas com profissionais especializados, ONGs, empresas ambientais, associações locais e comunidades rurais.
Como jornalista e gestor ambiental atuante na Paraíba, tenho acompanhado experiências riquíssimas que mostram como escolas que se abrem ao território e constroem redes de colaboração conseguem não apenas cumprir as exigências legais, mas criar experiências educativas que marcam a vida dos alunos — e fortalecem o vínculo entre escola, natureza e sociedade.
Por que atuar agora?
A Lei 14.926/24, sancionada em julho de 2024, torna obrigatórias nas escolas brasileiras — públicas e privadas — atividades relacionadas a educação climática e biodiversidade a partir de 2025. Porém, ainda hoje 34,2% das escolas brasileiras não desenvolvem qualquer ação ambiental. Ou seja, há uma janela de oportunidade para pioneirismo na Paraíba.
Enxergar além dos muros da escola
A escola privada deve ampliar seu olhar:
- Parcerias urbanas com ONGs, empresas e associações
Estudos mostram que ONGs são essenciais para ampliar materiais didáticos, capacitar professores e engajar famílias e comunidade. O Jornal MEC destaca que projetos surgem do diálogo entre escolas e esses atores. - Alianças com o setor rural e gestores ambientais
Organizações como o Instituto Ecoengenho têm experiência solidificada em projetos rurais, energia solar e capacitação profissional. Além disso, iniciativas como o Instituto Floresta Viva oferecem cursos práticos em agrofloresta, botânica e gestão de nascentes, focados no meio rural.
Em Campina Grande, a proximidade com zonas rurais como Catolé de Boa Vista, São José da Mata, Lagoa Seca, Queimadas, Cuité e Boqueirão facilita esse diálogo entre escola e campo.
Caminhos concretos para parcerias
- Mapear atores locais:
Liste ONG’s, institutos e empresas envolvidas em sustentabilidade — por exemplo, em João Pessoa ou interior do Estado — que possam levar oficinas, palestras e até consultoria ambiental. - Capacitação de professores:
Convide profissionais de Gestão Ambiental — engenheiros, biólogos, técnicos — para cursos de formação continuada. - Cursos e semanas temáticas curriculares:
Estruture eventos anuais (ex.: Semana do Meio Ambiente) com conteúdo sobre biodiversidade, reciclagem, mudanças climáticas, agricultura sustentável, ordenados por faixa etária e série, contando com instrutores especializados. - Projetos de campo e extensão rural:
Leve alunos a fazendas agroflorestais e hortas comunitárias em parceria com sítios, cooperativas ou institutos rurais. Atividades práticas fortalecem o aprendizado crítico. - Monitoramento e certificação:
Utilize indicadores como PEIR (Pressão‑Estado‑Impacto‑Resposta) para avaliar impactos locais — como coleta seletiva e prevenção de enchentes.
Exemplos inspiradores
- Instituto Ecoengenho (AL): capacita engenheiros ambientais e instala painéis solares em escolas rurais.
- Instituto Floresta Viva (BA): oferece “Escola da Floresta” a técnicos locais, com curso de agrofloresta e viveiros.
- Orquestra Experimental Sustentável (RJ): ensina música a partir de instrumentos recicláveis, integrando arte e sustentabilidade.
Por que isso faz diferença na Paraíba?
- Cumprimento da lei e adoção de práticas reais, não meramente simbólicas.
- Engajamento da comunidade rural, criando vínculos e promovendo renda local.
- Formação de cidadãos conscientes, capazes de agir com responsabilidade socioambiental.

Conclusão
Como escolas privadas de Campina Grande, temos todas as condições de liderar uma revolução silenciosa, mas profunda, na forma como educamos para o futuro. Ao longo deste texto, apresentei caminhos concretos para que a educação ambiental deixe de ser apenas uma atividade esporádica e se torne parte do calendário permanente das escolas, fortalecida por parcerias com profissionais especializados, ONGs, empresas, associações e comunidades rurais.
A legislação brasileira já caminha nessa direção, e as experiências de outros estados e regiões confirmam que a inserção estruturada da educação ambiental amplia a capacidade crítica, o engajamento social e o protagonismo estudantil. Na Paraíba, e especialmente em Campina Grande, esse movimento encontra solo fértil.
Nossa cidade, com sua localização privilegiada entre diferentes sub-regiões do estado — Brejo, Cariri, Curimataú, Sertão e Zona da Mata — está cercada por saberes populares, paisagens diversas e um patrimônio natural que deve ser mais bem explorado pelas escolas como território educativo. Campina Grande ainda conta com vários espaços públicos propícios à educação ambiental, como o Açude Velho, o açude de Bodocongó, o Jardim Botânico da UEPB, o Parque da Criança, o Parque Evaldo Cruz, a Feira Central e tantas outras áreas que guardam histórias, biodiversidade e possibilidades de experiências educativas ao ar livre.
Mais do que cumprir exigências legais, inserir a educação ambiental de forma permanente nos projetos pedagógicos é investir na formação de cidadãos conscientes, sensíveis ao território onde vivem e comprometidos com um futuro mais justo e sustentável.
Que as escolas possam enxergar seus muros como portais. E que, por esses portais, entrem não apenas alunos e professores, mas também a terra, a água, o vento, os saberes ancestrais, a ciência, o campo, a arte, o cuidado e a vida em todas as suas formas.
Sérgio Melo
Jornalista e comunicador ambiental. Coordenador de projetos de Educação Ambiental no portal Paraíba Cultural e na Q-Ideia – Design e Comunicação. Atua em ações integradas de sustentabilidade, cultura e desenvolvimento territorial no Estado da Paraíba.