Exportações de sucata ferrosa voltam a crescer em agosto, com as dificuldades no mercado interno

 Exportações de sucata ferrosa voltam a crescer em agosto, com as dificuldades no mercado interno

Waste Expo Brasil em outubro debate crise no setor

As exportações de sucatas ferrosas, insumo usado na fabricação de aço, mantêm a tendência de alta neste ano, diante de um cenário interno ruim e da demanda fraca.

Em agosto, as vendas externas alcançaram 64.731 toneladas, um expressivo aumento de 109,7% em relação às exportações de 30.864 toneladas no mesmo mês de 2022.

De janeiro a agosto, os números mostram uma forte expansão nas exportações, que somaram 476.493 toneladas neste ano, alta de 77,8% em comparação às 267.978 toneladas do mesmo período de 2022, conforme dados do Ministério da Economia, Secex.

Segundo Clineu Alvarenga, presidente do Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa), órgão de classe que representa mais de 5,6 mil recicladores que reinserem insumos recicláveis no ciclo da cadeia produtiva, com uma economia interna ainda retraída e fraca demanda da indústria automobilística e da construção civil (grandes consumidores de aço) — mesmo com a reação do PIB, puxado principalmente pelo setor de serviços –, as siderúrgicas e fundições têm comprado menor volume de sucata.

Alvarenga destaca que o forte crescimento deve-se a um movimento sazonal ocorrido neste ano. “As empresas sempre priorizam o mercado interno e exportam mais apenas quando há retração no mercado interno”, afirma.

“As indústrias estão também aumentando a verticalização da produção, utilizando seu próprio insumo na fabricação de aço, “o que desestimula o uso de materiais reciclados, coletados e vendidos por catadores e empresas recicladoras”.

O mesmo tem acontecido com a indústria de papel e papelão, que usam mais a celulose, em vez dos materiais reciclados, o que tem, conforme o Inesfa, provocado uma grave crise e fechamento de portas de algumas cooperativas com a elevada diminuição de cooperados em decorrência do achatamento de renda com baixas contínuas nos preços dos recicláveis.

O Inesfa considera que o efeito do aumento da tarifa de importação de papel e outros resíduos para 18% a partir de agosto, determinado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), terá pouco efeito positivo no setor. “O que tem mais impacto, na verdade, é a verticalização da indústria e menor uso do insumo reciclável”, diz.

Conforme Alvarenga, a previsão para este ano é de uma queda de pelo menos 30% na demanda interna por sucata, enquanto a exportação deve atingir patamares elevados até dezembro. “O início da queda da taxa de juros no país, determinado pelo Banco Central na reunião do Copom, e a melhoria do emprego nos últimos meses, trazem alguma esperança para o segundo semestre, principalmente na construção civil, mas continuamos pessimistas sobre a reação do nosso setor de insumos recicláveis, que só deve ocorrer em 2024”, diz Alvarenga. Ele considera essencial que haja maiores estímulos governamentais à reciclagem no âmbito federal, estaduais e municipais, tendo em vista ser uma das atividades essencial e estratégica na preservação do meio ambiente e incremento da economia circular.

 

WASTE EXPO 2023

As dificuldades atuais do setor de sucatas metálicas e outros materiais recicláveis serão um dos temas em destaque na Waste Expo Brasil, maior feira da América Latina destinada à gestão de resíduos sólidos, reciclagem e limpeza pública, que acontecerá nos dias 3 a 5 de outubro, no Expo Center Norte, em São Paulo – SP.

O Inesfa participará da exposição e feira com estande e realizará o “Seminário Reciclagem: Geração de Riquezas para o Brasil”, dando voz aos integrantes e interessados no assunto relacionados ao meio ambiente e economia circular. Haverá a participação de representantes de cooperativas de catadores e recicladores, para discutir a delicada situação do ciclo de transformação.

Entre os tópicos pautados, um dos destaques é o impacto da reforma tributária e o aumento da alíquota de importação de alguns insumos. “Os recicladores e catadores estarão participando, nos próximos meses, de audiências públicas que explanará as mudanças trazidas pela reforma tributária aprovada na Câmara dos Deputados, mas que depende ainda de um aval do Senado”, afirma Alvarenga.

 

SONEGAÇÃO

Pelo menos 30% da sucata ferrosa comercializada no Brasil pode estar associada à sonegação de impostos estaduais, o que potencialmente impacta os preços de mercado dos materiais posto em desuso, conforme levantamento realizado pelo S&P Global Platts, agência americana especializada em fornecer preços-referência e benchmarkets para o mercado de commodities.

A previsão é que o problema seja resolvido somente após o Brasil votar no Congresso e sancionar a reforma tributária. Estima-se que, do total de 12,5 milhões de toneladas comercializado no ano passado, cerca de 4 milhões de toneladas somente de sucata ferrosa foram envolvidas em fraudes, segundo Alvarenga “Os maiores prejudicados são os governos estaduais e toda a sociedade”, disse Alvarenga. “E isso está acontecendo em todos os Estados do Brasil.”

O Inesfa está aberto a encontrar e colaborar com alternativas que possam colaborar cada vez mais com os governos estaduais e federal no combate às fraudes que, nos últimos cinco anos, cresceu de cerca de 5% no comércio doméstico de sucata ferrosa, para mais de 30% em um segmento que deve totalizar aproximadamente 10 milhões de toneladas neste ano, segundo estimativas da Associação dos Recicladores do Brasil.

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