O cordel que celebra o Cumaru e a conservação da Caatinga

Por Sérgio Melo
Escrever cordel é algo que tem surgido em minha vida nos últimos anos, e tem sido uma experiência incrivelmente prazerosa. Descobrir o encanto dessa forma de poesia popular como ferramenta de educação ambiental e cultural tem me motivado a aprofundar ainda mais essa jornada literária. A literatura de cordel é um dos maiores tesouros culturais do Nordeste brasileiro. Com suas rimas ritmadas e narrativas envolventes, esse gênero literário tem atravessado gerações, transmitindo conhecimentos, valores e tradições do povo sertanejo. Mais do que uma expressão artística, o cordel se revela uma ferramenta poderosa para educar e sensibilizar a população sobre temas relevantes. Foi com essa inspiração que nasceu o meu cordel Cumaru da Caatinga, uma obra que une poesia e conscientização ambiental.
Escrevi Cumaru da Caatinga com o propósito de divulgar a história do cumaru (Amburana cearensis), uma árvore de grande importância ecológica e ameaçada pela degradação ambiental. Através de versos envolventes, a obra apresenta a importância da espécie para a biodiversidade da caatinga, destacando seu papel na proteção do solo, na oferta de sombra e no suporte à fauna local. Mais do que informar, o cordel busca emocionar e engajar o leitor na luta pela conservação desse bioma tão singular e essencial para o equilíbrio ecológico do Nordeste.
O Projeto Cumaru e a conservação ambiental
O cordel faz parte do Projeto Cumaru, uma iniciativa que visa proteger e restaurar a população dessa espécie na região semiárida. Através da parceria entre diversas instituições, como a Associação GAEA, a Botanic Gardens Conservation International (BGCI), a Fundação Franklinia e o Jardim Botânico Professor Ivan Coelho Dantas da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o projeto tem realizado um trabalho essencial de pesquisa, educação ambiental e plantio de mudas em áreas de risco.
Nas cidades de Pedra Lavrada e Olivedos, na Paraíba, a mobilização comunitária tem sido um dos pilares da iniciativa. A população local tem se envolvido ativamente na coleta de sementes, na produção de mudas e na recuperação das áreas degradadas. Crianças, jovens e adultos participam de oficinas educativas, onde aprendem sobre a importância da flora nativa e as estratégias necessárias para a sua preservação.

A força do cordel na educação ambiental
Usar o cordel como ferramenta pedagógica no Projeto Cumaru tem sido uma experiência transformadora para mim. Tenho percebido como a linguagem acessível e a musicalidade dos versos facilitam a compreensão do tema, tornando o aprendizado mais dinâmico e prazeroso. Além disso, a tradição oral do cordel permite que seu conteúdo seja transmitido de forma espontânea entre diferentes gerações, fortalecendo a identidade cultural e o sentimento de pertencimento à terra.
Nos versos de Cumaru da Caatinga, também faço questão de ressaltar o trabalho coletivo de pesquisadores e comunidades locais, que se uniram para garantir um futuro mais verde e equilibrado para o sertão. Entre os nomes citados na obra estão Guaracy M. Diniz, Helimarcos, Walter Vasconcelos, Luiz Baqueiro e outros profissionais que contribuíram significativamente para o sucesso do projeto.
O legado do Cumaru
O cordel Cumaru da Caatinga é apenas o primeiro volume de uma série dedicada à conservação ambiental da caatinga paraibana. Minha intenção é que novas edições abordem outras espécies e aspectos desse bioma tão rico e, ao mesmo tempo, tão ameaçado. O objetivo é continuar levando conhecimento e inspiração para que mais pessoas se tornem protagonistas na defesa da natureza.
O Projeto Cumaru e a literatura de cordel demonstram que a preservação ambiental e a cultura popular podem caminhar juntas, despertando consciência e promovendo mudanças positivas. Espero que a lição deixada por esse trabalho continue ecoando, assim como os versos do meu cordel, fortalecendo a luta pela conservação da caatinga e do nosso planeta.
