Universo Caatinga – Abelhas indígenas, Bioconstrução e Artes Integradas em prol da Conservação do Patrimônio Ambiental e Cultural

No coração da caatinga, natureza e conhecimento se encontram: a construção da Unidade de Conservação no Sítio Estivas une bioconstrução, manejo de abelhas indígenas e valorização do patrimônio ambiental e cultural. Credito: Sérgio Melo
Por Sérgio Melo – Paraíba Cultural
Março nos trouxe sol forte, vento seco e uma energia potente vinda da caatinga viva. Foi nesse cenário típico do Cariri paraibano que nossa equipe do ECOAMA realizou uma série de visitas técnicas ao Sítio Estivas, zona rural do município de Boqueirão, localizado na Região Metropolitana de Campina Grande. É nesse território resiliente e cheio de histórias que estamos lançando as bases de um projeto ousado, inspirador e necessário.
A ideia nasceu da união de duas forças que carregam a arte, a ciência e o pertencimento como bandeiras: o Ponto de Cultura Casa João de Barro e o ECOAMA – Ecossistema Associativista do Meio Ambiente, ambos atuando com firmeza e criatividade no Agreste da Paraíba. Juntos, propomos transformar uma área de 15 hectares de caatinga em uma Unidade de Conservação ambiental (UC), voltada para o empreendedorismo sustentável, a promoção da educação socioambiental, o ecoturismo, a agroindústria de carbono neutro e a pesquisa científica.
Mas esse não é apenas um projeto de preservação: é também uma manifestação poética do que acreditamos ser o futuro da convivência com o semiárido.
Nosso primeiro passo concreto será a construção de uma estrutura geodésica de inspiração biomimética, uma verdadeira cúpula viva que remete aos engenhos naturais criados pelas abelhas. Essa estrutura será a base inicial da nossa UC. Um espaço que acolherá iniciativas de manejo apícola com abelhas nativas sem ferrão, oficinas educativas, turismo ecológico, experimentos científicos e, acima de tudo, encontros. Encontros entre comunidade, pesquisadores, artistas, estudantes e a própria natureza, num ambiente pensado para simbolizar a integração entre ciência, arte e ecologia.
A escolha pelas abelhas indígenas sem ferrão, além de afetiva, é estratégica. Elas são fundamentais para a polinização da flora da caatinga, atuando silenciosamente na manutenção do equilíbrio ecológico. Nosso plano inclui o desenvolvimento do manejo dessas espécies, com capacitação de jovens e agricultores locais, a produção de mel e subprodutos, e a criação de roteiros de vivência educativa em torno dessas pequenas e maravilhosas engenheiras do ecossistema.
Paralelamente, estamos mapeando e categorizando as plantas nativas que servem de alimento para as abelhas, construindo um banco de dados e saberes que une conhecimento científico e tradição popular. Cada planta identificada é também uma história contada pelos mais velhos, um canto da caatinga que ganha nome, função e respeito.
No coração do projeto, pulsa a ideia de um Universo Caatinga: uma experiência viva onde o bioma não é só um cenário, mas protagonista. E onde arte, arquitetura ecológica, sustentabilidade, cultura e ciência caminham juntas pela conservação do nosso patrimônio ambiental e cultural.
Estamos só começando. Mas, como as abelhas, acreditamos que o trabalho coletivo e a organização cuidadosa das ideias e ações são capazes de transformar qualquer paisagem – inclusive a nossa maneira de olhar e viver a caatinga.
Mais do que conservar, queremos celebrar a caatinga. E você está convidado a fazer parte dessa construção.