Mercado de carbono: o que foi destaque na Semana do Clima de Nova York

 Mercado de carbono: o que foi destaque na Semana do Clima de Nova York

Bruno Matta, engenheiro ambiental e CEO da climate tech brCarbon

 

A integridade do mercado de carbono, com projetos de alta qualidade que possam realmente contribuir para a remoção e redução de emissões dos gases do efeito estufa, foi um dos temas de destaque na Semana do Clima de Nova York, a Climate Week NYC. O evento, que conta com apoio das Nações Unidas, foi realizado neste mês de setembro, reunindo milhares de executivos, políticos, cientistas do clima e representantes da sociedade civil nos Estados Unidos.

O Brasil está no centro do debate, por sediar grande parte da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, essencial para a vida em todo o planeta. E que hoje vive em perigo. A região lidera a perda de florestas primárias no mundo. Segundo dados do World Resources Institute (WRI), 43,1% de todo o desmatamento mundial em 2022 ocorreu no Brasil: 1,8 milhão de hectares (equivalente a 15 vezes a área da cidade do Rio de Janeiro), 15% de aumento em relação ao ano anterior. E a perda mais acelerada ocorreu na Amazônia Ocidental.

Entre as ações para proteger e recuperar a região, ganham destaque projetos na área de conservação e reflorestamento, envolvendo o mercado de carbono. São os chamados projetos com soluções baseadas na natureza, os SBN, na sigla original. Estas iniciativas podem ser um importante instrumento de incentivos econômicos para a conservação da Amazônia, além de reduzir a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e contribuir na remoção do carbono atmosférico, valorizando a floresta em pé. O mercado de carbono, que no Brasil ainda é voluntário, permite que empresas, organizações e indivíduos compensem as suas emissões de gases de efeito estufa a partir da aquisição de créditos gerados por projetos de redução de emissões e/ou de captura de carbono. Na Semana do Clima de Nova York, reforçou-se a importância da integridade dos projetos, atendendo às metodologias do setor e apresentando resultados concretos.

No evento promovido pela Coalizão da Natureza pelo Clima (Nature for Climate), foi discutido sobre o aperfeiçoamento do mercado de carbono para projetos baseados na natureza. Entre os principais aspectos abordados, destacam-se: 1. Planos transparentes de soluções baseadas na natureza; 2. Suporte e financiamento colaborativo; 3. Salvaguardas robustas; 4. Incentivos para investimentos sustentáveis. Esses pontos são chave para que um mercado de carbono possa ser eficiente e efetivo, com intuito de entregar ações de impacto.

No North America Climate Summit (NACS) promovido pela International Emissions Trading Association (IETA), que é um dos maiores fóruns para debate sobre as estratégias de carbono neutro e oportunidades para crescimento com base em energias limpas, a Verra, a principal plataforma de registro e padrões para projetos de carbono, reconheceu fragilidades no processo, as quais estão sendo revisadas e aprimoradas com os ajustes necessários. O que contempla desde o fortalecimento do mecanismo como um todo, tanto na parte do uso de novas tecnologias, digitalização da informação e transparência dos processos, além da estratégia de comunicação sobre os resultados e impactos positivos do projeto.

Foi consenso em todas as discussões, a importância das SBN para que seja possível conseguir atingir a meta máxima de aquecimento global estabelecida pelo Acordo de Paris, de 1,5°C. Todo esse debate é urgente, pois o mundo está cada vez mais perto do  chamado”ponto de não retorno”, conceito utilizado para indicar quando as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global não poderão ser mais revertidas.

É fundamental promover ações de conservação e restauração florestal, bem como boas práticas no setor agropecuário o quanto antes; assim como também a transição energética e consequente a descarbonização da economia. Ambas as estratégias devem ocorrer o quanto antes para evitarmos o ponto de não retorno, já é consenso entre a comunidade científica que estamos muito próximos deste tipping point irreversível para a floresta. Há um conjunto de fatores que levam a essa situação, mas o desmatamento é um dos principais. E as respostas precisam ser rápidas.

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