A importância da conservação do cumaru em Banco Ativo de Germoplasma
A Caatinga é o único bioma exclusivo do Brasil e, ainda, pouco protegida por Unidades de Conservação de Uso Indireto. A pressão antrópica devido à exploração agrícola ou dos recursos naturais, que já afeta mais de 45% da sua extensão territorial, atinge a sobrevivência de importantes espécies vegetais como o cumaru, que é uma planta representativa do potencial de exploração econômica e da riqueza da vegetação nativa do semiárido brasileiro.
O cumaru é uma árvore frondosa típica da região e tem como nome científico Amburana cearensis (Allemao) A.C. Smith (Fabaceae) (Sinonímia botânica Amburana acreana (Ducke) A.C. Sm. – Fabaceae). Popularmente, porém, o identificam como amburana, amburana-de-cheiro, cerejeira, cerejeira-rajada, cumaru-do-ceará, cumaru-das-caatingas, cumaru-de-cheiro, umburana, umburana-de-cheiro e imburana.
Essa diversidade de nomes populares reflete, em certa medida, a distribuição espacial de ocorrência da planta por todo o sertão do Brasil, mas também na America do Sul (do Peru à Argentina), especialmente no sudoeste da Floresta Amazônica. Nos diversos lugares, a relação profunda das populações com os muitos benefícios que extraem dessa planta acentuam as especificidades das denominações.
Do ponto de vista econômico, A. cearensis apresenta valiosa importância comercial dada às suas várias aplicações. A madeira, de reconhecida durabilidade, é utilizada na fabricação de móveis, portas, janelas e caixotarias. As sementes, coletadas indiscriminadamente todos os anos pela população do Semiárido, são comercializadas em feiras livres para utilização como aromatizante e repelente de insetos.
Na medicina popular, essas mesmas sementes e as cascas do caule, preparadas em chás, são empregadas no tratamento de asmas, bronquites, gripes e resfriados. O decocto (cozimento) da casca também é usado para tratar dores reumáticas. Na indústria farmacêutica está disponível na forma de xarope, elaborado pelo Programa Farmácias Vivas – Farmácia Escola da Universidade Federal do Ceará (UFC) e por laboratórios farmacêuticos privados como o Selachii e Bionatus.
A eficácia do uso popular de A. cearensis é assegurada por estudos farmacológicos feitos a partir do extrato hidroalcoólico da casca do caule e de alguns de seus constituintes químicos, os quais demonstraram atividades analgésica, broncodilatadora e antiinflamatória. A casca do caule é basicamente constituída de cumarina, responsável pelo seu odor peculiar, flavonóides, glicosídios fenólicos (amburosídios) ácidos fenólicos (ex.: vanílico e protocatecuico).
Estudos mais recentes revelaram que a cumarina, o isocampferídio e o amburosídio A possuem efeitos antiinflamatório, antioxidante e broncodilatador e são indicados como princípios ativos da planta. A segurança e eficácia terapêutica evidenciadas nos estudos fitoquímicos já realizados, permitem considerá-la como de importante utilidade em programas de fitoterapia em saúde pública.
Por outro lado, a crescente demanda na exploração econômica de A. cearensis, causada pela coleta indiscriminada e pelo seu uso madeireiro e medicinal, já começa a ameaçar sua sobrevivência. Levantamento feito pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais-IUCN classifica essa espécie como ameaçada de extinção. Por sua vez, A. acreana, já consta na lista oficial do Ministério do Meio Ambiente das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção.
A exploração inadequada das plantas da Caatinga e a necessidade do estabelecimento de políticas públicas ou programas com ações voltadas à sua conservação e manejo sustentável, têm sido temas de destaque em discussões e reuniões científicas, de âmbito nacional. O estabelecimento de programas com ações voltadas à conservação das espécies vegetais deste bioma são urgentes e necessárias, pois além do risco de erosão genética, as espécies apresentam elevado potencial de exploração econômica.
O estabelecimento de Bancos Ativos de Germoplasma (BAG) é uma medida importante para garantir a conservação da espécie, protegendo-a da erosão genética. Um deles está sendo instalado na Embrapa Semiárido, como estratégia utilizada pelos pesquisadores para desenvolver ações voltadas à conservação ex situ de acessos da Amburana cearensis, que poderão ser utilizados em pesquisas na área de melhoramento genético e outras, bem como, para atender as demandas futuras por parte das indústrias farmacêuticas de fitoterápicos com interesse na produção de medicamentos a partir de espécies nativas.
Na realização deste trabalho, além de outras ações, estão previstas coletas de materiais para implantação do BAG em populações de plantas encontradas nos habitats de ocorrência natural da espécie em todo o semiárido, em ecorregiões estabelecidas segundo o mapa do Zoneamento Agroecológico do Nordeste (ZANE).
Fonte: Jornal Dia no Campo