Morre Dulce Menezes, a última cangaceira do bando de Lampião

 Morre Dulce Menezes, a última cangaceira do bando de Lampião

Bando de Lampião / Crédito: Benjamin Abraão Botto

Dulce Menezes dos Santos, faleceu na manhã de sexta-feira, 09 de dezembro de 22, em São Paulo, aos 99 anos de idade. Única cangaceira do bando de Lampião ainda viva, completaria 100 anos no dia 23 de maio de 2023.

Dulce em 1938

Natural do estado de Sergipe, em Canindé de São Francisco, nos arredores da Fazenda Jerimum de propriedade do senhor “Antônio Menino” (Antônio José Gomes de Britto) e “Sinhô do Jerimum” (Francisco Correa de Britto), este último era sogro do Cel. João Bezerra, o militar que comandou o ataque que deu cabo a vida de Lampião na gruta de Angico em 1938.

Dulce Menezes dos Santos foi uma das muitas mulheres que tiveram suas vidas interferidas pelo bando de Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião. Hoje, vivendo na periferia de Campinas aos 96 anos, ela passou a integrar ao cangaço após ter sido retirada de sua família e violentada por um dos integrantes do grupo.

Essa fase da vida de Dulce sempre foi escondida pela família, o que fez com que a idosa passasse a evitar visitas. “Infelizmente isso aconteceu contra minha vontade. Não fui porque quis ir”, deixou claro em entrevista ao Estado de Minas.

O trágico encontro entre Dulce e os mais famosos bandidos do Brasil ocorreu quando ela vivia com a irmã em Alagoas. Antes, morava na fazenda de algodão da família em Porto da Folha, Sergipe, mas ambos os pais morreram quando ela era criança.

“Fui a pulso, arrastada, se não morria. O apelido dele era Criança. Deus queria que eu estivesse aqui agora, conversando com vocês”, afirmou Menezes. “[ele estava] com parabélum na mão. E [eu] com medo de morrer, acompanhei.” Na época com 13 anos, ela era apaixonada por Pedro Vaqueiro, um rapa de Piranhas que, ao descobrir a violência, saiu com um desespero aterrador e desapareceu no sertão.

Acontece que Criança pertencia a um dos subgrupos comandados pelo capitão Lampião que, em 1938, convocou seus homens para uma reunião na Gruta do Angico, Sergipe. Lá, Dulce conheceu Maria Bonita, a quem ela descreveu como “boa pessoa”.

 

Crédito: Domínio Público

 

Esse acontecimento ocorreu no dia que antecedeu o encontro do famoso momento em que finalmente o Rei do cangaço fora capturado e executado. Quando a notícia chegou a Piranhas, a família foi checar se a cabeça da moça estava entre os troféus da volante. O grupo então se embrenhou no mato e fugiu, mas decidiram se entregar à polícia em troca de uma anistia concedida pelo ditador Getúlio Vargas. Com dois filhos, Criança e Dulce passaram a trabalhar numa fazenda do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. Para ajudar Dulce, o dono da fazenda tornou o ex-cangaceiro o novo tropeiro do lugar, obrigando-o a se afastar da garota.

Dulce se casou com Jacó, o dono da fazenda, e com ele teve 18 filhos. Ela relata que esse momento de sua vida foi muito melhor do que a época em que estava sequestrada pelo bando de Lampião: “Foi o tempo que fui feliz. […] Agora essa turma do Lampião, meu Deus do céu, quando queria pegar mulher, se não fosse, eles matavam”.

Dulce aos 96 anos - Divulgação/Youtube
Dulce aos 96 anos

Quando Jacó morreu, Dulce decidiu mudar-se para o estado de São Paulo com a filha Martha, passando a residir em Campinas, onde não encontrou a maior felicidade: teve filhos e netos assassinados em meio à violência da cidade.

Filha de lavradores, Dulce ingressou no cangaço ainda menina, resistiu à dureza da vida nas caatingas, sobreviveu a chacina de Angico em 28 de julho de 1938 e conheceu a dificuldades da vida urbana no Estado mais rido do País (São Paulo), onde deu seu último giro em torno do sol. Deixando uma história de luta e sobrevivência.

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